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O Futuro da Democracia

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O FUTURO DA DEMOCRACIA Uma Defesa das Regras do Jogo Um resumo da obra de Norberto Bobbio Por Ros ngela Tatsch Ao lado do primado do governo das leis, ocorre a ... – PowerPoint PPT presentation

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Title: O Futuro da Democracia


1
O FUTURO DA DEMOCRACIA

Uma Defesa das Regras do Jogo

Um resumo da obra de Norberto Bobbio
Por Rosângela Tatsch
2
Se me perguntassem se a democracia tem um porvir
e qual é ele, admitindo que exista, responderia
tranqüilamente que não sei... Bobbio
3

Uma definição mínima...
de democracia
4
  • Conjunto de regras que estabelecem quem está
    autorizado a tomar as decisões coletivas e com
    quais procedimentos
  • É prevista e facilitada a participação mais
    ampla possível dos interessados (não votam os
    indivíduos que não atingiram uma certa idade).
  • A regra fundamental da democracia é a regra da
    maioria, a base da qual são consideradas decisões
    coletivas
  • Com maior razão ainda é válida uma decisão
    adotada por unanimidade (esta possível apenas num
    grupo restrito)
  • É indispensável que aqueles que são chamados a
    eleger os que deverão decidir sejam colocados
    diante de alternativas reais e em condições de
    poder escolher entre uma e outra
  • Para isso, é necessário que lhes sejam
    garantidos os direitos de liberdade, opinião,
    expressão, reunião, associação, etc., por serem
    estes o pressuposto necessário para o correto
    funcionamento dos próprios mecanismos que
    caracterizam um regime democrático

5
  • Estado Liberal e Estado Democrático são
    interdependentes no sentido de que
  • São necessárias certas liberdades para o
    exercício da democracia
  • Da mesma forma que
  • É necessário o poder democrático para garantir a
    existência das liberdades fundamentais

6
O que foi concebido como nobre e elevado
tornou-se matéria bruta...
Devemos analisar o contraste entre os ideais
democráticos e a democracia real.
7
  • A democracia nasceu de uma concepção
    individualista da sociedade, onde qualquer forma
    de sociedade é um produto artificial da vontade
    dos indivíduos.
  • Para o formação dessa concepção foram feitas as
    seguintes considerações
  • Contratualismo antes da sociedade civil existe
    o estado de natureza, no qual indivíduos livres e
    iguais entram em acordo entre si para dar vida a
    um poder comum capaz de garantir-lhes a vida, a
    liberdade e a propriedade
  • O bem comum na soma dos bens individuais
  • Num estado sem corpos intermediários, ou seja sem
    a existência de sociedades particulares entre o
    povo e seus representantes

8
  • Aconteceu o oposto...
  • Existência de
  • Grupos e grandes organizações
  • Associações das mais diversas naturezas
  • Sindicatos das mais diversas profissões
  • Partidos de várias ideologias
  • E cada vez menos a atuação dos indivíduos
  • Os grupos e não os indivíduos são os
    protagonistas da vida política numa sociedade
    democrática
  • A sociedade real é
    pluralista...

9
  • A democracia deveria ser caracterizada pela
    representação política, na qual o representante
    busca os interesses da nação
  • Ao contrário da representação dos interesses,
    onde o representante busca os interesses
    particulares do representado
  • Constituição de 1791 Responsável pela
    proibição de mandatos imperativos
  • ... O deputado, uma vez eleito, torna-se o
    representante da nação e deixa de ser o
    representante dos eleitores...
  • A transgressão dessa norma constitucional
    deve-se
  • a uma sociedade composta de grupos autônomos que
    lutam pela sua supremacia, para fazer valer os
    próprios interesses contra outros grupos
  • Ao fato de que cada grupo tende a identificar o
    interesse nacional com os seus próprios
    interesses.

10
No que se refere as Transformaçõesda
Democracia O Sistema Neocorporativo (estabelecido
na maior parte dos estados democráticos
europeus), caracterizado por uma
relação de acordo entre grandes grupos
de interesses contrapostos e o parlamento,
mediado pelo governo (representante dos
interesses nacionais), é visto como a solução dos
conflitos sociais.
11
a característica de um governo democrático não
é a ausência de elites, mas a presença de muitas
elites em concorrência entre si para a conquista
do voto popular... Joseph Schumpeter
De acordo com o pensamento democrático, seria
imprescindível a eliminação da tradicional
distinção entre governados e governantes. Porém,
a democracia representativa, baseada na
computadocracia, é considerada incapaz de
eliminar as oligarquias do poder.
12
A democracia nasceu com a perspectiva de eliminar
para sempre das sociedades humanas o poder
invisível e de dar vida a um governo cujas ações
deveriam ser desenvolvidas publicamente.
  • E não fazer com que as grandes decisões
    políticas sejam tomadas nos gabinetes secretos,
    longe dos olhares indiscretos do público.
  • Daí a importância da exigência de publicidade
    dos atos de governo, não apenas para o cidadão
    conhecer os atos de quem detêm o poder, e sim,
    controla los.

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  • Quando se quer saber se houve um
    desenvolvimento da democracia num dado país, o
    certo é procurar perceber se aumentou
  • Não o número dos que têm o direito de participar
    nas decisões que lhes dizem respeito
  • Mas sim, os espaços nos quais podem exercer esse
    direito

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  • John Stuart Mill divide os cidadãos em ativos e
    passivos e esclarece que
  • Os governantes preferem os segundos
  • Mas a democracia necessita dos primeiros
  • A democracia é efetuada
  • pelo eleitor que espera extrair benefícios do
    sistema político
  • pelo eleitor empenhado na articulação das
    demandas e na formação das decisões

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  • A apatia política chega a atingir metade dos que
    têm direito ao voto.
  • Diminui o voto de opinião

????
  • Aumenta o voto de permuta (apoio político em
    troca de favores pessoais)
  • as opiniões, os sentimentos, as idéias comuns
    são cada vez mais substituídas pelos interesses
    particulares
  • Alexis de Tocqueville

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  • As promessas não foram cumpridas por causa de
    obstáculos que não estavam previstos...
  • Aumento do governo dos técnicos com a
    transição da economia familiar para a economia de
    mercado, aumentaram os problemas políticos que
    requerem competências técnicas
  • Democracia todos podem decidir a respeito de
    tudo
  • Tecnocracia convocados para decidir apenas
    aqueles poucos que detêm conhecimentos
    específicos

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  • Crescimento do aparato burocrático
  • Estado democrático e Estado burocrático estão
    muito ligados
  • Quando só os proprietários votavam
  • poder público dava proteção à propriedade
  • Quando o voto foi estendido aos analfabetos e
    não-proprietários
  • É inevitável que o governo lhes proporcione
    escola gratuita, proteção contra o desemprego,
    seguros sociais contra doença, velhice,
    maternidade, etc.

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  • Baixo rendimento do sistema burocrático
  • O Estado liberal juntamente com o Estado
    democrático contribuíram para a emancipação da
    sociedade civil (liberdades civis via entre
    cidadãos e governantes), levando ao governo
    muitas demandas
  • O que gera as chamadas sobrecarga, sendo a
    imissão das demandas em ritmo muito acelerado e a
    emissão, ao contrário, muito lento

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Apesar disto... Não imaginem para a democracia um
futuro catastrófico...
20
Pois...
  • Nos últimos 40 anos aumentou progressivamente o
    espaço dos regimes democráticos
  • Após a 2ª GM a democracia não voltou a ser
    abatida nos lugares em que foi restaurada e, em
    outros países foram derrubados governos
    autoritários
  • As promessas não cumpridas e os obstáculos não
    previstos não foram suficientes para
    transformar os regimes democráticos em regimes
    autocráticos

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  • O conteúdo mínimo do Estado Democrático não
    encolheu...
  • garantia dos principais direitos de liberdade
  • existência de vários partidos em concorrência
    entre si
  • eleições periódicas a sufrágio universal
  • decisões coletivas tomadas com base no princípio
    da maioria
  • Existem democracias mais sólidas e menos sólidas,
    e de diversos graus de aproximação com o modelo
    ideal.

22
Democracia direta e

Democracia Direta
E
Democracia Representativa
23
Jean Jacques Rousseau Pai da Democracia Moderna
A soberania não pode ser representada
O povo acredita ser livre, mas só o é durante
as eleições, depois volta a ser escravo...
24
  • Uma verdadeira democracia jamais existiu, nem
    existirá pois requer condições difíceis de
    serem reunidas
  • Um estado muito pequeno no qual ao povo seja
    fácil reunir-se e cada cidadão possa facilmente
    conhecer todos os demais
  • Uma grande simplicidade de costumes que impeça
    a multiplicação dos problemas e as discussões
    espinhosas
  • Uma grande igualdade de condições e fortunas
  • Pouco ou nada de luxo

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Democracia Representativa as deliberações são
tomadas não diretamente por aqueles que dela
fazem parte, mas por pessoas eleitas para esta
finalidade. Por representante entende-se uma
pessoa que
  • Na medida em que goza da confiança do corpo
    eleitoral, uma vez eleito não é mais responsável
    perante os próprios eleitores e seu mandato,
    portanto, não é revogável.
  • Não é responsável diretamente perante os seus
    eleitores, porque é convocado a tutelar os
    interesses gerais da sociedade civil e não aos
    interesses particulares desta ou daquela
    categoria

base da crítica sobre a democracia
representativa
26
  • Nas eleições políticas (sistema representativo)
    o apoio ao partido prevalece sobre o apoio à
    categoria

Uma conseqüência do sistema
  • Os representantes por não representarem
    categorias, e sim interesses gerais, acabam por
    construir uma categoria à parte, os políticos de
    profissão Não vivem apenas para a política,
    mas vivem da política.Max Weber

- Uma das chagas do nosso parlamentarismo é a
proliferação das pequenas leis que são o efeito
da predominância de interesses particulares
27
Democracia Direta o indivíduo participa nas
deliberações que lhe dizem respeito sem que entre
deliberantes e deliberações exista intermediário.
  • Os significados históricos de democracia
    representativa e democracia direta são tantos que
    é difícil dizer onde termina uma e onde começa
    outra
  • Um sistema democrático caracterizado pela
    existência de representantes substituíveis é
  • Democracia representativa prevê representantes
  • Democracia direta admite que estes
    representantes sejam substituíveis

28
Isto implica que
Democracia Representativa e Democracia Direta não
são sistemas alternativos (no sentido de que onde
existe uma não pode existir a outra), mas podem
integrar-se reciprocamente.
29
Ambas são necessárias, porém, não suficientes
  • Democracia direta dois institutos
  • Assembléia dos cidadãos (a democracia que
    Rousseau tinha em mente)
  • Possível apenas numa pequena comunidade como o
    modelo de Atenas nos séculos IV e V
  • - Referendum Único instituto de democracia
    direta, trata-se de um caso extraordinário para
    circunstâncias extraordinárias

Ninguém pode imaginar um estado capaz de ser
governado através do contínuo apelo ao povo...
(Ex. na Itália seria necessário no mínimo 1
convocação por dia).
30
O desenvolvimento da democracia não pode ser
interpretado como a afirmação de um novo tipo de
democracia, mas deve ser entendido como a
ocupação, pelas formas ainda tradicionais de
democracia (representativa) de novos espaços.
Hoje dominados por organizações de tipo
hierárquico ou burocrático.
31
Os dois grandes blocos de poder descendente e
hierárquico a grande empresa e a administração
pública não foram ainda sequer tocadas pelo
processo de democratização.
  • Enquanto estes dois blocos resistirem

A transformação democrática da sociedade não é
possível...
Se o avanço da democracia for, de agora em diante
medido pela conquista dos espaços ocupados por
centros de poder não democrático, ainda assim, a
democracia integral está distante e é incerta...
32
Apatia Política...
Ao ativismo dos líderes históricos ou não
históricos pode corresponder o conformismo das
massas...
Consideremos todo aquele que não participa da
vida do cidadão, não como um que se ocupa apenas
dos próprios negócios, mas como um indivíduo
inútil... Periéles
Tão logo alguém diga dos negócios do estado que
me importam eles?, pode-se estar seguro de que o
estado está perdido...
Rousseau
33
A sociedade é pluralista (outros centros de poder
além do estado) para Rousseau, a ruína da
democracia.
Democracia considera o poder autocrático (poder
que parte do alto) e sustenta que o remédio
contra este tipo de poder é o poder que vem de
baixo.
Pluralismo considera o poder monocrático
(concentrado numa única mão) e sustenta que o
remédio para este tipo de poder é o poder
distribuído.
34
O pluralismo nos permite apreender uma
característica fundamental da democracia A
liberdade do dissenso e a existência do direito à
oposição.
Se a democracia tem por base o consenso da
maioria , logicamente que há uma minoria de
dissentâneos.
35
A prova de fogo de um regime democrático está na
resposta à pergunta O que fazer com os
dissentâneos?
  • Num regime fundado sobre o consenso, o dissenso
    é inevitável
  • Só onde o dissenso é livre para se manifestar, o
    consenso é real
  • Só onde o consenso é real, é possível
    proclamar-se o sistema democrático
  • A única possibilidade que temos de verificar se
    o consenso é real é verificando o seu contrário

36
Tudo está, portanto, em conexão...
... A liberdade de dissentir tem a necessidade de
uma sociedade pluralista... ... Uma sociedade
pluralista consente uma maior distribuição do
poder... ... Uma maior distribuição do poder abre
as portas para a democratização da sociedade
civil, e... ... A democratização da sociedade
civil alarga e integra a democracia política...
37
Os Vínculos da Democracia
38
Quando se põe o problema do novo modo de fazer
política não se deve dirigir a atenção apenas
para os novos sujeitos e para os novos
instrumentos de intervenção, mas principalmente
para as Regras do Jogo...
39
  • A importância das regras do
    jogo
  • O que distingue um sistema democrático dos
    sistemas não democráticos é um conjunto de regras
    do jogo. Não apenas o fato de possuir essas
    regras, mas por estas terem amadurecido ao longo
    de séculos de provação e encontram-se, hoje,
    constitucionalizadas quase por toda parte.
  • A principal regra da democracia é a regra da
    maioria.

40
  • Sobre a reforma ou substituição das reformas da
    democracia
  • Quais são as regras boas para se conservar e
    quais as regras ruins a serem eliminadas?
  • Será possível, num sistema democrático,
    distinguir com segurança as regras a serem
    mantidas e as serem descartadas?
  • Conservaremos o sufrágio universal mas não a
    liberdade de opinião?
  • A liberdade de opinião mas não a pluralidade dos
    partidos?

41
  • Um bom democrata deve concordar que até mesmo as
    regras do jogo podem ser modificadas...
  • (em todas as constituições democráticas estão
    previstos procedimentos para a revisão das
    próprias normas constitucionais).
  • No Jogo Político Democrático - (sistema cujo
    consenso é verificado periodicamente através de
    eleições por sufrágio universal)
  • Atores principais - os partidos
  • Modo de de fazer política as eleições

42
1968 Não apenas inventou um novo modo de fazer
política com novos atores, assembléia,
manifestações, agitações de rua, ocupação de
locais públicos... ... Mas também não aceitou
algumas das regras fundamentais do sistema
democrático (parlamentozinhos) substituindo-os
pelo principio da democracia direta e revogação
de mandato.
43
  • Porém...
  • A ruptura de 68 produziu apenas uma série de
    revoluções e não uma transformação do sistema
  • Uma das razões...
  • fragilidade das propostas alternativas no que se
    refere às regras do jogo...
  • A transformação não ocorreu... Mas o sistema
    democrático resistiu...

44
  • Os seus principais atores (partidos
    tradicionais) sobreviveram
  • Apesar das lamúrias e protestos, os ritos
    eleitorais continuaram e se multiplicaram, em
    decorrência da duração cada vez mais breve das
    legislaturas
  • A abstenção do voto aumentou, porém os nossos
    partidos estão preocupados, não com o
    abstencionismo que os deixaria mais livres (menos
    gente vota, menos pressão recebem), mas com o
    fato de que as abstenções podem criar vantagens
    para o partido adversário

45
  • Os que desejaram fazer política por fora do
    sistema dos partidos e dos partidos do sistema,
    tiveram que dar vida a um partido novo (que
    apesar da novidade é um partido como todos os
    outros)
  • O sindicato propõe um modo de fazer política
    mediante a agregação de interesses parciais daí
    o peso político dos grupos que podem paralisar
    uma atividade de importância nacional

46
Os movimentos, sejam eles sociais ou de opinião,
são reconhecidos num sistema democrático com base
nos princípios fundamentais da Liberdade de
Associação e Liberdade de Opinião...
Precondições para o funcionamento das Regras do
Jogo...
Particularmente daquela que diz que nenhuma
decisão coletiva pode ser tomada e implementada
sem o consenso através de periódicas eleições por
sufrágio universal
47
Liberdade de Associação e Liberdade de Opinião
Colocam os atores do sistema em condições de
exprimir as próprias demandas e de tomar as
decisões após uma livre discussão...
48
Porém...
Estas liberdades, como qualquer outra, são
admitidas de forma limitada...
  • O deslocamento dos limites determina o grau de
    democraticidade de um sistema.
  • Onde os limites aumentam, o sistema democrático
    é alterado
  • Onde essas duas liberdades são suprimidas a
    democracia deixa de existir

49
Se para males extremos são necessários remédios
extremos(como o terrorismo)... As pessoas estão
forçadas a um estado de impotência por aceitarem
as regras do jogo...
Do sentimento de impotência nasceu o chamado
refluxo
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Fenomenologia do refluxo
Separação da Política - Nem tudo é política
(diz respeito aos limites da atividade política)
  • A experiência histórica demonstra que a política
    é apenas uma das atividades fundamentais do
    homem
  • Somos herdeiros de uma história onde o estado
    não é tudo e ao lado de um estado há um
    não-estado (sociedade política contraposta à
    religiosa)
  • A politização integral da própria vida é aquilo
    que Dahrendorf chamou de CIDADÃO TOTAL a
    polis é tudo e o indivíduo nada

51
Renúncia à Política A política não
é de todos
(diz respeito aos limites dos sujeitos chamados a
participar da política)
  • A política é feita para poucos (realidade
    histórica até mesmo das sociedades ditas
    democráticas)
  • A maior parte das pessoas estão livres de
    ocupar-se dos negócios públicos os admitidos ao
    empenho são poucos - Típico desprezo da plebe,
    onde
  • a contraposição não é mais entre sábios e
    ignorantes... Mas entre competentes e
    incompetentes (conhecimento científico)

-
52
Recusa à Política
  • Sábio é aquele que cuida do seu próprio
    particular e quem se ocupa da política é alguém
    que dela tira proveito
  • Há quem não consegue ver na política mais que o
    vulto demoníaco do poder , onde os ideais são
    apenas um meio de enganar as massas , traídas
    assim que o poder é conquistado

53
Pode-se imaginar...
  • A política é tudo mas não é de todos Estado
    Total
  • A política não é tudo mas é de todos Estado
    Democrático
  • A política é tudo e é de todos Idealizada
    por Rousseau

Pode-se perceber...
  • A política não é tudo e não é de todos
    Estados Oligárquicos do passado, e do presente
    sob a camuflagem dos estados Democráticos

54
Apesar disso...
Sair fora das regras do jogo não seria uma
atitude sensata... Pois uma vez rompida a
principal destas regras, a das eleições
periódicas, não se sabe onde tudo terminará...
55
A Democracia e o
Poder Invisível
56
  • Democracia Governo do Poder Público em Público
  • Público pertencente ao Estado (contraposto a
    privado)
  • Público Visível, evidente (contraposto a
    secreto)
  • - Princípio democrático Todas as decisões e
    atos dos governantes devem ser conhecidas pelo
    povo

57
Mesmo quando o ideal da democracia direta foi
substituído pela democracia representativa o
caráter público do poder, entendido como não
secreto, como aberto ao público, permaneceu
como um dos critérios fundamentais para
distinguir o estado constitucional do estado
absoluto, assinalando assim o (re) nascimento do
Poder Público em Público . Madison Com o
tema da representação da democracia
desenvolveu-se o princípio segundo o qual o
poder é tanto mais visível quanto mais próximo
está
58
  • As comunicações de massa encurtaram as distâncias
    entre governados e governantes, porém, mesmo com
    a publicação das atas parlamentares, das leis e
    outras providências no Diário Oficial, o caráter
    público do parlamento nacional continua sendo
    indireto.
  • O caráter público do governo de um município é
    mais direto, exatamente porque é maior a
    visibilidade dos administradores e das suas
    deliberações
  • Essa publicidade é uma categoria tipicamente
    iluminista, no que se refere ao contraste entre
    poder visível e poder invisível

59
Não existe nada de secreto no Governo Democrático?
  • Todas as operações dos governantes devem ser
    conhecidas pelo povo soberano, exceto algumas
    medidas de segurança pública, que ele deve
    conhecer apenas quando cessar o perigo Michele
    Natale (catecismo republicano)
  • O caráter público é a regra, o segredo a
    exceção, este justificável se limitado no tempo
    (ditadura romana)

Todas as ações relativas ao direito de outros
homens, cuja máxima(sentença) não é suscetível de
se tornar pública, são injustas Kant
60
  • Uma máxima, não suscetível de se tornar pública,
    é uma máxima que, caso fosse tornada pública,
    suscitaria tamanha reação no público que tornaria
    impossível a sua realização.
  • Escândalo Público Momento em que se torna
    público um ato até então mantido em segredo, pois
    caso se tornasse público não poderia ser
    concretizado.
  • O critério da publicidade é distinguir o justo
    do injusto, o lícito do ilícito.

61
Autocracia e arcana imperii
  • A relação política (governante/governado) pode
    ser representada como uma relação de troca o
    governante oferece proteção em troca de
    obediência Quem protege precisa ter mil olhos,
    quem obedece não precisa ver coisa alguma
  • Arcana fenômeno do poder oculto e que oculta
    Se esconde escondendo 1º segredo de estado
  • - 2º mentira
    lícita e útil (lícita porque útil)

  • (princípio de Platão)
  • O segredo de estado não é a exceção, mas a
    regra. As decisões políticas são tomadas pelo
    conselho secreto (3 ou 4 escolhidos entre os mais
    sábios e experientes)

62
  • Onde existe o poder secreto, existe também o
    anti-poder secreto (sob forma de conspirações,
    conjuras, golpes de estado, ou ainda revoltas e
    rebeliões)
  • (...) conjuras (...) muito mais por elas
    príncipes perderam a vida e o estado, que por
    guerras abertas. Maquiavel
  • Fonte inspiradora do poder invisível Quem vê
    não é visto, quem não vê é visto.
  • Quem vigia o vigilante? (escritores políticos
    puseram como questão última de toda teoria do
    estado)

63
Ideal Democrático e Realidade
  • - Lembrando das promessas não cumpridas da
    democracia, terá ela cumprido a promessa de
    combater o poder invisível?
  • Se o poder invisível se combate com outro poder,
    igualmente invisível... Fenômeno da espionagem e
    dos serviços secretos.
  • Até o estado mais democrático tutela uma esfera
    privada dos cidadãos (delito de violação de
    correspondências, defesa da privacidade) ,
    exigência de que as discussões secretas do
    parlamento, atas dos processos penais, dentre
    outras esferas, não sejam abertas ao público

64
  • Autocracia o segredo de estado é uma regra
  • Democracia o segredo de estado é uma exceção
    regulada por lei
  • O terrorismo é um caso exemplar de poder oculto
    que atravessa toda a história
  • Com a computadocracia surgiu a idéia de que a
    democracia direta seria possível pelo uso dos
    computadores...
  • E porque não o próprio uso dos computadores
    poderia tornar possível um amplo conhecimento dos
    cidadãos por parte de quem detém o poder?...

65
LIBERALISMO VELHO
E NOVO
66
  • Reacendeu-se nos últimos anos o interesse pelo
    pensamento liberal (reedição de um clássico de
    John Stuart Mill)
  • Mill expressa a idéia de
  • Antepor limites ao poder (mesmo o da maioria)
  • O elogio da diversidade
  • A condenação do conformismo
  • A prioridade que se deve dar à liberdade de
    opinião
  • Princípio de Justiça (Não prejudicar os
    outros)

67
LIBERALISMO
Complexo de idéias que dizem respeito à condução
e a regulamentação da vida prática, e em
particular da vida associada. Já que a afirmação
da liberdade de um se resolve sempre na limitação
da liberdade do outro
68
LIBERALISMO
  • Como teoria econômica fautor da economia de
    mercado
  • Como teoria política fautor do Estado mínimo (
    subtrair-lhe o domínio da esfera econômica, fazer
    da intervenção do poder político na economia, não
    a regra, mas a exceção)

Processo de formação do Estado
Liberal
  • Emancipação do poder político do poder religioso
    (Estado Laico) o Estado deixa de ser o braço
    secular da Igreja
  • Emancipação do poder econômico do poder político
    torna-se o braço secular da burguesia mercantil
    e empresarial

69
  • Com o renascimento do interesse pelo pensamento
    liberal
  • - reivindicação das vantagens da economia de
    mercada contra o estado intervencionista
  • reivindicação dos direitos do homem contra toda
    nova forma de despotismo
  • Contra o socialismo nas suas 2 únicas versões
  • Social-democracia (produziu o estado de
    bem-estar)
  • Comunismo (só admite a propriedade estatal dos
    meios de produção e das mercadorias produzidas)

70
  • O movimento operário nasceu sob uma concepção
    progressiva e determinista.
  • Progressiva o curso histórico
    desenvolver-se-ia numa direção onde cada fase
    representa um avanço no caminho que vai da
    barbárie à civilização
  • Determinista cada fase está inscrita num
    projeto e deve necessariamente acontecer
    Porém...
  • Onde o socialismo se realizou, é difícil
    interpreta-lo como uma fase progressiva da
    história
  • Onde se realizou pela metade, o fez a curto
    prazo e tende a regredir

71
  • A antítese do Estado Liberal é o Estado
    Paternalista (domínio sob seus súditos)
  • Estado paternalista de hoje A Democracia
  • O desenvolvimento do Estado Assistencial está
    ligado ao desenvolvimento da analogia entre
    MERCADO e DEMOCRACIA
  • o político pode ser comparado a um empresário
    cujo rendimento é o poder, o poder se mede por
    votos, cujos votos dependem da sua capacidade de
    satisfazer interesses de eleitores e cuja
    capacidade de responder às solicitações depende
    dos recursos públicos que pode dispor Max Weber

72
  • Política Keynesiana salvar o capitalismo sem
    sair da democracia
  • Prática Lenista abater o capitalismo
    sacrificando a democracia
  • Fascismo abater a democracia para salvar o
    capitalismo
  • Neoliberais salvar a democracia sem sair do
    capitalismo
  • A exigência expressa pelo neoliberalismo é a de
    reduzir a tensão entre mercado e democracia
  • Ingovernabilidade da democracia está não só nos
    governados, responsáveis pela sobrecarga das
    demandas, mas nos governantes que não podem
    deixar de satisfazer o maior nº possível para
    fazer prosperar a sua empresa (os partidos)

73
Contrato e
Contratualismo No debate atual
74
A passagem da sociedade de status à sociedade de
contractus ( Henry) realizou-se nos anos em que o
crescimento da sociedade mercantil fazia prever
uma expansão da sociedade civil e um
enfraquecimento (desaparecimento) de estado (que
se engrandeceu) Atualmente fala-se em ... ...
Intercâmbio político em analogia com um fenômeno
típico da relação privada mercado político
... Voto de permuta em oposição ao voto de
opinião ... Das relações de troca contrapostas
às relações de dominação ... De conflitos que
se resolvem através de acordos e convenções que
se concluem num pacto social referendado pelas
forças sociais (sindicatos) ... Num pacto
político referendado pelas forças políticas
(partidos) ... Num pacto nacional referendado
pela reforma constitucional
Enfim...
Fala-se de um novo contratualismo ...
75
A CRISE DO ESTADO SOBERANO
  • A teoria do Estado Moderno está centrada na
    figura da lei como principal fonte de
    padronização das relações de convivência.
  • Trata-se, porém, de uma figuração
    ...
  • A realidade da vida política se desenvolve
    através de conflitos, cuja resolução acontece
    mediante acordos momentâneos e as constituições
    (tratados mais duradouros)
  • Uma das características da doutrina do estado
    que prevaleceu é o direito público (e a
    impossibilidade de compreender as relações de
    direito público através do recurso às
    tradicionais categorias ao direito privado)

76
O particularismo como figura
histórica
  • Sobretudo após a 1ª GM se começou a perceber o
    contraste entre o Estado como poder centrado e a
    realidade de uma sociedade dilacerada, dividida
    (assentamento normal das modernas democracias,
    destinada a durar) que não podia se sujeitar a
    doutrina dominante que contrapôs o direito
    público ao privado e suspeitou do pluralismo em
    uma fase de crescimento dos cidadãos ativos,
    formação de sindicatos e surgimento de partidos
    de massa e, conseqüentemente dos conflitos.
  • Porém, os interesses individuais de grupo
    (particularismo) prevaleceu sobre os interesses
    gerais, o privado sobre o público, fazendo com
    que não exista mais a doutrina do estado como um
    todo, apenas um conjunto de partes uma ao lado da
    outra

77
O Grande Mercado
  • Onde os partidos são muitos a lógica que preside
    as suas relações é a lógica do acordo e não do
    domínio
  • Formação de dos acordos código civil
  • das leis
    constituição
  • Portanto, deve-se entender a rede de acordos da
    qual nascem as exclusões e as coalizões para se
    entender como se move e se transforma uma
    constituição
  • A diferença dos acordos privados e
    internacionais dos políticos é que os políticos
    são informais (não regulados por lei)

78
  • O caso mais interessante de contraste entre
    constituição formal e real é a pratica inoperante
    do mandato imperativo (investido de um poder
    público, deve ser exercido no interesse público)
  • Hoje, porém, cada membro do parlamento
    representa, antes de tudo, o próprio partido
    (dificultando a realização do ideal da unidade
    estatal acima das partes)
  • Isso se deve ao fato das sociedades parciais não
    só não terem desaparecido, mas aumentado como
    efeito do desenvolvimento da democracia
    (nascimento de partidos de massa) em conseqüência
    da formação de grandes organizações para defesa
    de interesses econômicos das sociedades
    industriais com forte concentração de poder
    econômico. É onde desenvolvem-se contínuas
    negociações que constituem a verdadeira trama das
    relações de poder na sociedade, na qual o
    governo, o soberano nem sempre é o mais forte

79
O Pequeno Mercado
  • Entre partidos grande mercado
  • Entre partidos e eleitores pequeno mercado
  • Os cidadãos, enquanto eleitores de uma função
    pública, tornam-se clientes transformando uma
    relação pública em privada (Isso só é possível
    através da transformação do mandato livre em
    vinculado)
  • Daí
  • Corrupção do princípio individualista
    (democracia moderna) cuja regra é a da maioria,
    fundada sobre o princípio de que cada cabeça é um
    voto

80
  • A democracia representativa nasceu do
    pressuposto de que os indivíduos, uma vez
    investidos da função pública de escolher seus
    representantes, escolheriam os melhores (voto
    de opinião) (e não quem garantisse os seus
    interesses voto de permuta)
  • A força de um partido é medida pelo nº de votos
  • Quanto maior o nº de votos no pequeno mercado
    (partido e eleitores) , maior a força contratual
    do partido no grande mercado (relação dos
    partidos entre si)
  • No grande mercado, não conta apenas o nº de
    votos de um partido, mas também a sua colocação
    no sistema de alianças

81
Mercado Político e Democracia
O mercado político, no sentido da relação de
troca entre governantes e governados é uma
característica da democracia ( não da de Rousseau
de controladores não de controladores
controlados)
82
  • Na democracia a massa dos cidadãos intervém
    ativamente no processo de legitimação do sistema
  • usando o direito de voto para apoiar os
    partidos constitucionais
  • ou não usando apatia política (quem cala
    consente)
  • intervém na repartição do poder de governar
    entre as forças políticas distribuindo os votos
    de que dispõe
  • o consenso através do voto é uma prestação
  • a contraprestação do eleito é uma vantagem (sob
    forma de bens ou serviços) ou isenção de uma
    desvantagem

83
  • Acordos do Mercado Político assemelham-se aos
    contratos bilaterais as 2 partes têm (cada uma)
    uma figura distinta (representante/ representada)
    , as 2 partes têm objetivos diversos, mas um
    interesse comum, a troca.
  • - As prestações são claras (proteção em troca de
    consenso).
  • Acordos do Grande Mercado assemelham-se aos
    contratos plurilaterais, todas as partes têm uma
    figura comum (de sócios) as várias partes têm
    interesses diversos, mas um objetivo comum,
    aquele pelo qual é constituída a sociedade.
  • - Neste acordo (do qual nascem as coalizões de
    governo) o objetivo comum de formar um governo e
    governar é vário e complexo. (por isso são
    submetidos à freqüentes revisões e atos de
    rescisão)

84
Renascimento do Contratualismo
  • Renovado interesse pelas doutrinas
    contratualistas do passado ( neocontratualismo)
  • O contrato social pretendia justificar a
    existência do estado e encontrar um fundamento
    para o poder político
  • Mas, qual a justificação desse poder? (a grande
    pergunta dos filósofos políticos)
  • Contratualismo uma das possíveis respostas

85
Interpretação marxiana Se o contratualismo
nasce com o crescimento do mundo burguês, a
concepção individualista da sociedade (base da
democracia moderna) é mais proletária que
burguesa, já que a burguesia iria se manter à um
sufrágio limitado aos proprietários... ... e a
extensão do sufrágio aos que nada tem ocorreu com
o impulso propiciado pelo movimento
operário... ... E o sufrágio universal é a
condição necessária para a existência de um
regime democrático onde a fonte de poder são os
indivíduos com a aplicação da regra da maioria
para tomada das decisões coletivas
86
A Nova Aliança
O neocontratualismo proposta de um novo pacto
social, global e não parcial, uma verdadeira
Nova Aliança - nasce da crescente
ingovernabilidade das sociedades complexas A
maior dificuldade que o neocontratualismo
enfrenta hoje é o fato de os indivíduos
(titulares do direito de determinar as cláusulas
do novo pacto), não se contentam mais em pedir,
em troca da sua obediência, apenas a proteção das
liberdades fundamentais ... ... Mas passam a
pedir que venha inserida no pacto alguma
cláusula que assegure uma equânime distribuição
da riqueza, para com isso atenuar (se não
eliminar) as desigualdades
87
Governo dos Homens ou Governo das
Leis?
88
  • Essa questão diz respeito não a forma de
    governo, mas ao modo de governar, à distinção
    entre o bom e o mau governo.
  • Bom governo é aquele em que os governantes são
    bons porque governam respeitando as leis ou
    aquele em que existem boas leis porque os
    governantes são sábios?
  • É mais útil ser governado pelo melhor dos
    homens, ou pelas leis melhores?
  • Para os defensores do poder régio as leis apenas
    podem fornecer prescrições gerais e não provêm
    aos casos que pouco a pouco se apresentam. (...)
    seria ingênuo regular-se conforme normas escritas
    (...)

89
  • Todavia, aos governantes é necessário também a
    lei que fornece prescrições universais, pois
    melhor é o elemento que não pode estar submetido
    à paixões... Aristóteles
  • O filósofo faz uma crítica aos fautores do poder
    régio, que propõem estabelecer a natureza da
    ciência régia forma de saber científico que
    permite, a quem a possua, o exercício de um bom
    governo.
  • Mas o melhor de tudo, parece, não é que as leis
    contem, mas que conte, bem mais, o homem que tem
    entendimento, o homem régio! Platão
  • Sócrates pergunta Por qual razão?
  • Platão responde Porque a lei jamais poderá
    prescrever com precisão o que é melhor e mais
    justo para todos (...) e sustenta que a lei é
    semelhante a um homem prepotente e ignorante que
    não deixa a ninguém a oportunidade de realizar
    algo sem uma sua prescrição.

90
  • Os defensores da superioridade do governo dos
    homens vêem na generalidade da lei um elemento
    negativo, pois assim não pode compreender todos
    os casos possíveis e acaba por exigir a
    intervenção do sábio governante para que seja
    dado a cada um o que lhe é devido
  • Aristóteles defende a lei por ser sem
    paixões, ou seja, onde o governante respeita a
    lei não pode fazer valer as próprias
    preferências e impede-o de exercer o poder em
    defesa de interesses privados
  • primado da lei protege o cidadão do arbítrio
    do mau governante
  • primado do homem protege o cidadão da
    aplicação indiscriminada da regra geral

91
  • Todo o pensamento político do medievo está
    dominado pela idéia de que, bom governante é
    aquele que governa observando as leis, como as
    proclamadas por Deus, as inscritas na ordem
    natural das coisas, ou ainda, as estabelecidas
    como fundamento da constituição do estado
  • Henri Bracton enuncia uma máxima destinada a se
    tornar o princípio do estado de direito não é o
    rei que faz a lei, mas a lei que faz o rei.

92
Doutrina do Estado de Direito originária na
Inglaterra e hoje universal (no sentido de que
não é mais contestada, tanto que quando não
reconhecida invoca-se o estado de exceção) tem
como princípio inspirador a subordinação de todo
poder ao direito, através do processo de
legalização de toda ação de governo que tem sido
chamado de constitucionalismo. Duas
manifestações revelam a universalidade da
submissão do poder político ao direito - A
interpretação Werbiana do estado moderno como
estado racional e legal, cuja legitimidade
repousa no exercício do poder em conformidade com
as leis - A teoria Kelseniana do ordenamento
jurídico como cadeia de normas que criam poderes
e poderes que criam normas
93
Por governo da lei entende-se 2 coisas diversas
(coligadas) O governo sub lege, também
considerado per leges, isto é, mediante leis
(através da emanação de normas gerais e
abstratas) Uma coisa é o governante exercer o
poder segundo leis preestabelecidas, outra coisa
é exerce-lo mediante leis (não ordens individuais
e concretas) Num estado de direito o juiz,
quando emite uma sentença que é uma ordem
individual e concreta, exerce o poder sub lege
. O legislador constituinte, exerce o poder per
lege no momento em que emana uma constituição
escrita
94
Os valores fundamentais (a igualdade, a
segurança e a liberdade) estão garantidos pelas
características essenciais da lei entendida como
norma geral e abstrata, mais que pelo exercício
legal do poder Exatamente por sua
generalidade, uma lei (independentemente do seu
conteúdo), não consente nem o privilégio nem a
discriminação A existência de leis
igualitárias e desigualitárias é um outro
problema que diz respeito não a forma da lei, mas
ao conteúdo Mais problemática é o nexo entre a
lei e o valor da liberdade
95
O famoso dito aceroniano diz que devemos ser
servos da lei para sermos livres... Se é
sempre livre quando se está submetido às leis,
mas não quando se deve obedecer a um homem,
porque neste segundo caso devo obedecer a vontade
de outrem, e quando obedeço as leis obtempero
apenas à vontade pública, que é tanto minha como
de qualquer outro. Rousseau (deve-se
considerar que por lei Rousseau entende
unicamente a norma emanada da vontade geral) - É
preciso considerar como leis verdadeiras e
próprias apenas aquelas normas de conduta que
intervenham para limitar o comportamento dos
indivíduos unicamente com o objetivo de permitir
a cada um o desfrute de uma esfera própria de
liberdade, protegida da eventual interferência de
outros
96
Para Hegel o direito abstrato (que se ocupam os
juristas) é composto apenas de proibições. Esta
velha doutrina, que podemos chamar de doutrina
dos limitesda função do direito, foi retomada
por um dos maiores defensores do estado liberal,
Friedrich von Hayek, que entende por normas
jurídicas apenas aquelas que oferecem as
condições ou os meios com os quais o indivíduo
pode perseguir livremente os próprios fins sem
ser impedido a não ser pelo igual direito dos
outros. As leis assim definidas são para Hayek
imperativos negativos ou proibições.
97
Enquanto o nexo entre lei e segurança e entre
lei e igualdade é é direito, para justificar o
nexo entre lei e liberdade é preciso manipular o
conceito mesmo de lei a demonstração do nexo
entre lei e liberdade positiva exige o apelo à
doutrina democrática do estado. a do nexo entre
lei e liberdade negativa pode ser fundada apenas
sobre os pressupostos da doutrina liberal.
98
  • Ao lado do primado do governo das leis, ocorre a
    idéia do primado do governo dos homens.
  • Não se deve confundir a doutrina do primado do
    governo dos homens com o elogio da monarquia como
    forma de governo
  • A máxima de Ulpiano enunciada ao principado
    romano diz que o soberano está livre das leis
    positivas que ele mesmo produz (...) mas não das
    leis divinas e naturais, que obrigam inclusive o
    monarca que antes de ser rei é um homem como
    todos os outros.
  • A excelência da monarquia não está em ser o
    governo do homem contraposto ao governo das leis,
    mas, ao contrário, na necessidade que tem o
    monarca de respeitar as leis universalmente
    humanas.

99
  • Enquanto se identificar o governo dos homens com
    o governo tirânico não existe razão nenhuma para
    se abandonar a antiga doutrina do primado do
    governo das leis
  • Desde a celebre descrição platônica do advento
    do tirano como decorrência da dissolução da polis
    provocada pela democracia licenciosa
    (desregrada/corrupta) a tirania como forma de
    governo corrupta foi associada bem mais à
    democracia que à monarquia
  • Após a Revolução Francesa e o domínio
    napoleônico ganhou destaque entre os escritores
    políticos conservadores ao lado das tradicionais
    formas de governo ( com uma conotação geralmente
    negativa) o cesarismo que Marx chamou de
    bonapartismo

100
  • Por todos os escritores que o fazem forma
    autônoma de governo o cesarismo é definido como
    tirania popular
  • Para Tocqueville, uma nova espécie de opressão
    ameaça os povos democráticos e diz que o fato de
    a coisa ser nova, não é tão nova ao ponto de
    não poder ser descrita como uma forma de
    despotismo
  • Perto do fim do século,a análise histórica e
    doutrinal do cesarismo foi dedicado amplo espaço
    em dois dos maiores tratados de política, o de
    Freitschke e o de Roscher

101
Freitschke antifrancês, considera que
Napoleão satisfaz o desejo dos franceses de serem
escravos e chama o regime nascido da revolução de
despotismo democrático. O Roscher diz que
é sempre melhor um leão que dez lobos ou cem
chacais e afirma que o tirano nasce do governo
do povo e governa com o favor daqueles que por
ele são tratados como escravos.
- O coligamento entre governo popular e governo
tirânico é um tema claro à todos os escritores
antidemocráticos liderados por Platão
102
  • O governo dos homens se apresenta nas concepções
    paternalistas ou patriarcalistas do poder, onde o
    estado é considerado como uma família e o poder
    do soberano é assimilado ao do pai ou patriarca,
    um grupo monocrático no qual o sumo poder está
    concentrado nas mãos de um único e os súditos são
    incapazes (temporariamente filhos ou
    perenemente escravos).
  • Tal como o pai, o rei é elevado à exercer o
    poder não à base de normas preestabelecidas e
    mediante normas gerais e abstratas, mas à base da
    sabedoria e mediante a disposições dadas de vez
    em vez, segundo as necessidades, das quais
    apenas ele é o intérprete

103
  • Enquanto sociedade de desiguais a mulher com
    respeito ao marido, os filhos com respeito ao
    pai, os escravos com respeito ao patrão - o
    estado quando concebido como uma família não se
    submete à força igualizadora da lei, apóiam-se
    mais sobre a justiça caso por caso que sobre a
    justiça legal
  • Quando Leibniz enumera os deveres do soberano
    (para distinguir o bom do mau governo) retoma os
    deveres do bom pai Esses deveres dizem respeito
    à boa educação, adestramento para a moderação, a
    prudência, bem como o exercício de todas as
    virtudes do corpo e da alma, dentre os quais o
    dever de fazer com que os súditos amem e honrem
    os seus governantes ( honrar pai e mãe ) .

104
  • A crítica definitiva da concepção paternalista do
    poder provêm de Kant (autor de uma das mais
    completas teorias do estado de direito)
  • Um governo fundado sobre o princípio da
    benevolência para com o povo, tal como o governo
    de um pai (paternalista) (...), é o pior
    despotismo que se possa imaginar. Kant
  • Ponto débil da tese favorável ao governo das
    leis De onde derivam as leis?
  • As leis têm origem divina ou se perde na
    escuridão dos tempos ?
  • (...) de tanto em tanto , os deuses inspiram
    homens extraordinários que, estabelecendo novas
    leis, dão uma ordem justa e duradoura às cidades
    - Minosse em Creta, Licurgo em Esparta, Sólon em
    Atenas.

105
Deste modo,não é a boa lei que faz o bom
governante, mas o sábio legislador que realiza o
bom governo ao introduzir boas leis O grande
legislador é exaltado por Rousseau no Contrato
Social Seriam precisos deuses para dar leis
aos homens Referente ao Homem Régio de Platão
Se é verdade que um grande príncipe é uma pessoa
rara, quanto mais não o será um bom
legislador? Análoga à figura do grande
legislador é a do fundador de estados (...) de
um povo disperso fez uma cidade Teseu (análoga
porque também pertence ao tema misterioso das
origens).
106
  • Se em seu desenvolvimento histórico a cidade
    pode ser conhecida através de suas leis, de sua
    constituição, voltando-se às origens, não se
    encontram leis, mas homens
  • Na idade moderna o mais elevado reconhecimento
    do primado do governo dos homens sobre o governo
    das leis encontra-se no Príncipe de Maquiavel
  • Nenhuma coisa dá tanta honra à um governante
    novo como as novas leis e os novos regulamentos
    por ele elaborados
    Maquiavel
  • Seguindo Maquiavel, Hegel diz que o fundador de
    estados tem o direito à seu lado, ou seja, o
    direito que todos os seus sucessores não têm, de
    exercer a força acima e por fora das leis para
    alcançar seu fim, um direito que, pode-se afirmar
    absoluto.

107
  • Tanto o grande legislador, o sábio, quanto o
    fundador de estados, o herói, são personagens
    excepcionais que surgem em situações incomuns
    (...)
  • Daí que a pergunta Governo dos Homens ou
    Governo das Leis é mal posta, pois um não exclui
    o outro
  • Historicamente, o governo do homem faz seu
    aparecimento quando o governo das leis ou ainda
    não surgiu, ou mostra sua inadequação diante do
    surgimento de uma situação de crise
    revolucionária, em suma, está estreitamente
    ligado ao estado de exceção

- Daí nasce a instituição do ditador (primeiros
séculos da república romana). Em torno disso
giram as mais interessantes reflexões sobre o
governo dos homens.
108
O ditador romano é exemplo da atribuição a uma
única pessoa dos plenos poderes, inclusive o
de suspender (mesmo que temporariamente) a
validade das leis, numa situação de gravidade
para a sobrevivência mesma do estado. A
ditadura romana é apresentada como exemplo de
soberania política pelos maiores escritores da
idade moderna, de Maquiavel a Rousseau, isto por
reconhecer a utilidade do governo do homem apenas
em caso de perigo público e apenas enquanto durar
o perigo. O dever do ditador é exatamente o de
restabelecer o estado normal e, com isso, a
soberania das leis. A ditadura quando tende a
perpetuar-se transformando o poder constitucional
do ditador em poder pessoal, a justificação do
prolongamento indefinido dos plenos poderes está
fundada sobre a gravidade e a imprevisível
duração da crise.
109
  • Carl Schmitt faz uma distinção entre Ditadura
    Comissária e Ditadura Soberana que reflete a
    diferença entre os plenos poderes como
    instituição prevista pela constituição e os
    plenos poderes assumidos por fora da
    constituição, porém com um ponto em comum, a do
    poder temporário.
  • Marxismo a ditadura da burguesia é a
    realidade a ser combatida, a ditadura do
    proletariado o ideal a ser perseguido
  • Max Weber inclui o Poder Carismático uma
    espécie de síntese histórica de todas as formas
    de poder do homem
  • O oposto do Poder Carismático é o Poder Legal
  • Para Weber o governo do chefe carismático e o
    das leis não são bons, nem maus, nem podem
    substituir-se um ao outro, são manifestações
    diversas em circunstâncias históricas diversas

110
Weber sempre afirmou que o dever de um cientista
não é dar juízo, mas compreender. Porém sempre
teve suas preferências e nos últimos anos de sua
vida cultivou o ideal de uma forma de governo
misto que combinasse a legitimidade democrática
com a presença ativa de um chefe, o que ele
chamou de democracia plebiscitária para
contrapor a democracia parlamenta acéfala (s/
chefe)
111
Bobbio conclui dizendo a minha preferência vai
para o governo das leis, não para o governo dos
homens. O governo das leis celebra hoje o próprio
triunfo na democracia... E o que é a democracia
se não um conjunto de regras para a solução dos
conflitos sem derrame de sangue? Em que consiste
o bom governo democrático, se não no rigoroso
respeito a essas regras? Posso concluir
tranqüilamente que a democracia é o governo das
leis por excelência... No momento mesmo em que um
regime democrático perde de vista esse seu
princípio inspirador degenera em seu contrário,
numa das tantas formas de governo autocrático.
112

Bibliografia Bobbio, Norberto, 1909 O Futuro da
Democracia Uma Defesa das Regras do Jogo 5ª
edição, São Paulo Editora Paz e Terra, 1992
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