Title: Movimentos no C
1Movimentos no Céu
- Lua, Sol, Planetas, Estrelas
- e tudo o que vemos e o que não vemos.
- Felipe Coelho
- Instituto de Física da UFRJ
2Nebulosa e estrela de Eta Carina(fotos do
observatório espacial Hubble)
3História
- O ciclo de dia e noite (o Dia) e o ciclo de
fases da lua (o Mês Lunar) foram sempre
evidentes para a humanidade e tinham utilidade
prática para marcar o tempo. - Além disso havia o ciclo de estações que
chamamos Ano. Em boa parte do mundo esse ciclo
tem estações muito nítidas uma muito fria (o
Inverno), outra própria para o plantio (a
Primavera), outra muito quente (o Verão) e outra
própria para a colheita (o Outono). Em outras
partes, na chamada região tropical, essa variação
é muito menor e às vezes se reduz a uma estação
de chuvas e uma de seca. - Desde a descoberta da agricultura e a
consequente criação de sociedades cada vez mais
complexas foi importante ter calendários. Até
povos pré-históricos os mencionavam nas suas
religiões e construíam monumentos astronômicos
para indicar a data do dia mais longo do ano (o
início do Verão). Posteriormente os babilônicos,
os chineses, os maias e outros povos fizeram seus
calendários e para isto o estudo dos movimentos
celestes era essencial. - A Astronomia foi assim a primeira Ciência e o
estudo do movimento dos astros era essencial para
a Agricultura, para as religiões, para a vida
social e para a navegação.
4Como saber que passou um ano?O exemplo mais
famoso e preservado é o monumento de Stonehenge,
na Inglaterra, feito 4000 anos atrás por um povo
pré-histórico. (Há outros círculos de pedra com
finalidade astronômica na Grã-Bretanha e Irlanda,
mas o mais antigo é de 5000 anos atrás e está no
Egito.)Esse tipo de construção é chamado
megalítico, pois é feito com pedras gigantes ou
megalitos (megagrande,litospedra). No dia mais
longo do ano (o solstício de verão) a luz do Sol
iluminava o altar.
5A utilidade prática da Astronomia
- Mesmo antes da descoberta da Agricultura
(ocorreu cerca de dez mil anos atrás),
quando as sociedades viviam da caça e da pesca,
era impor-tante saber o ciclo de estações. Depois
da descoberta da Agricultura isto tornou-se
fundamental, pois a vida das sociedades girava ao
redor do sucesso da colheita. Saber o dia do ano
é algo importante para determi-nar festividades
religiosas e para a vida social, e isto era feito
pela Astronomia. Além disso a posição dos astros
no céu é essencial para a navegação, pois o céu é
diferente em cada latitude. - Hoje associamos esse ciclo do ano à volta da
Terra ao redor do Sol e à inclinação do eixo de
rotação da Terra e associamos o ciclo de dia e
noite à rotação da Terra. Nada disso é evidente
das aparências, esses ciclos eram misteriosos, o
que levou a explicações religiosas. Muitas
culturas até faziam sacrifícios humanos e de
animais para o Sol renascer cada manhã ou para a
Primavera voltar depois do Inverno.
6A Lua, o Sol e as Estrelas
- Aparentemente não só a Lua e o Sol fazem círculos
ao redor da Terra como as estrelas fazem círculos
ao redor de um ponto que chamamos o polo celeste.
Hoje sabemos que esse movimento é aparente, sendo
produzido pela rotação da Terra.
7Fotografia do céu com tempo de exposição longo
8As constelações unindo as posições aparentes de
estrelas, no hemisfério celeste. Na verdade
quem gira é a Terra...
9Muita coisa não é o que parece
- As constelações são apenas um recurso visual e
como tal são arbitrárias leão, touro,
caranguejo, etc. - As constelações no plano equatorial da Terra são
chamadas de zodiacais. - O que parece ser uma estrela pode ser um conjunto
de estrelas ou até uma galáxia com dezenas de
bilhões de estrelas. - O Sol é uma estrela de intensidade luminosa média
10As constelações de Orion e Taurusum exemplo de
imaginação...
11E os planetas e os cometas? E os eclipses do Sol
e da Lua?
- Havia coisas irregulares no céu. Os planetas, em
particular apareciam cada dia num ponto do céu.
Vários povos do grupo chamado indo-europeu
associaram a eles os seus deuses principais e
também associaram a eles os nomes dos dias da
semana. Os babilônicos fizeram o mesmo. - A semana de 7 dias, como boa parte da Astronomia,
originou-se no primeiro milênio antes de Cristo
na Babilônia, uma região hoje parte do sul do
Iraque. Lá surgiu também o dia de 24 horas e o
círculo de 360 graus, e tanto o grau quanto a
hora foram divididos em 60 partes chamadas
minutos.
12Babilônia (sec. VII e VI aC)
13Porque os planetas eram deuses?
- Os planetas andavam livremente pelo céu e, assim,
contrariamente ao Sol, à Lua e às estrelas,
tinham liberdade. Abaixo está o movimento
aparente de dois deles à esquerda, Marte, e à
direita, Mercúrio.
14Os nomes dos dias da semana
- Há três fontes principais
- A) grego clássicoSol, Lua, Aries,Hermes, Zeus,
Afrodite e Cronos latim clássico Sol, Lua,
Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno - B) Os povos germânicos usavam nomes diferentes
para cada deus e seu planeta correspondente, mas
davam o nome dos seus deuses aos dias da semana.
Assim sendo há os dias do Sol, da Lua, de Tyr
(Twia), de Odin, de Thor, de Freya e de Saturno. - C) Os judeus numeravam os seus dias e chamavam o
sétimo dia de sábado. A igreja cristã manteve o
nome dos dias judaicos mas chamou o primeiro dia
de Domingo ou dia do Senhor. - O papa Silvestre II (950-1003), com formação
científica, recomendou que os nomes dos deuses
pagãos fossem removidos e se adotasse a
nomenclatura judaico-cristã para os dias da
semana mas apenas Portugal cumpriu na íntegra o
pedido.
15Os deuses/planetas continuaram nos nomes dos dias
de semana...
- Os países de língua latina (exceto Portugal)
mudaram apenas os no-mes dos dia do Sol e de
Saturno, que passaram a Domingo e Sábado. Os
demais continuaram com os nomes de
planetas/deuses de segunda a sexta-feira. Em
espanhol, por exemplo, os nomes são lunes,
martes, miércoles, jueves e viernes. Em francês e
em italiano ocorre o mesmo. - Nas línguas germânicas (alemão, inglês, sueco)
nem isso ocorreu. Apenas sumiu o dia de Odin
(Wodan) do alemão, e o dia de Saturno sumiu do
alemão e do sueco (afinal Saturno não era deus
germânico). Mexer com deuses/planetas é
difícil!!! - Já os meses são nomeados de várias fontes. Quatro
são de deuses romanos (Jano, Marte, Maia, Juno).
Dois são de imperadores romanos (Julio Cesar e
Augusto). O nome Fevereiro vem de um deus etrusco
da morte. O nome Abril vem de ser o mês onde as
flores abrem. Os últimos 4 meses eram numerados
de 7 a 10 (deviam ser numerados de 9 a 12 mas o
calendário romano tinha dois meses sem número).
16Porque os religiosos islâmicos, judeus e cristãos
se preocupavam com calendários e mapas celestes?
- Nessas religiões o calendário religioso é inteira
ou parcialmente baseado nos meses lunares, mas a
vida prática exige calendários solares,
associados ao ciclo de estações. Por exemplo, no
calendário solar europeu ocidental era importante
saber a data da Páscoa, que é o início do ano
litúrgico. - Além disso o islamismo determina que o fiel ore
voltado para Meca, o que exige ter bons mapas e
instrumentos astronômicos. A Astrono-mia árabe
era excepcional também para responder às
necessidades da navegação árabe, muito ativa no
Mediterrâneo e no Oceano Índico. E havia também o
interesse científico básico.
17A Astronomia do fim da era medieval
- No século XIII o rei Alfonso, o Sábio (de
Castela, hoje parte da Espanha) reuniu uma
comissão de astronomos judeus, muçulmanos e
cristãos para fazer uma tabela revisada de
movimentos planetários. Essa tabela mostrava,
mais uma vez que havia dificuldades com o modelo
grego para movimentos planetários. Enquanto os
movimentos do Sol e da Lua podiam ser
considerados círculos, os dos planetas eram em
circulos cujos centros, por sua vez andavam em
círculos. Além disso o centro de cada círculo
planetário podia andar em círculo ao redor do
verdadeiro centro do Universo. A Terra estava
perto desse centro do Universo mas não no centro.
Há uma lenda de que o rei teria dito que se Deus
o tivesse consultado ele pediria uma coisa mais
simples. A lenda deve ser falsa mas o modelo
grego tinha mais de 50 parâmetros, era bem
complicado.
18Qual era o problema? Aristóteles, Ptolomeu e São
Tomas de Aquino
- O filósofo grego Aristóteles (séc. IV aC)
compilou boa parte de conhecimento da sua época.
Posteriormente outros cientistas e filósofos
complementaram o seu trabalho. Na área de
Astrono-mia o grande nome foi Ptolomeu (sec. I e
II dC) com sua obra gigantesca o Almagesto (em
árabe quer dizer Grande Tratado). - Os muçulmanos e os cristãos orientais
(ortodoxos) já tinham compati-bilizado esses
filósofos não-cristãos com as suas religiões, mas
os cristãos ocidentais ignoravam esses trabalhos
e a possibilidade de conciliá-los com sua
religião. As obras desses autores gregos, assim
como de árabes, começaram a chegar na Europa
Ocidental cristã no século XIII, principalmente
pela Espanha. Logo o teólogo e filósofo francês
São Tomás fez com a Suma Teologica a mesma
análise detalhada dessas obras, mostrando que não
eram incompatíveis com o cristianismo ocidental
(católico). Ele seguiu em especial ao filósofo
espanhol muçulmano do século XII, ibn Rushd, cujo
nome foi latinizado para Averrois.
19O modelo de Ptolomeu(o modelo era complicado
mesmo!)
- Ptolomeu explicou o movimento dos planetas
através de uma combinação de círculos o planeta
se move ao longo de um pequeno círculo chamado
epiciclo, cujo centro se move em um círculo maior
chamado deferente. A Terra ficaria numa posição
um pouco afastada do centro do deferente
(portanto, o deferente é um círculo excêntrico em
relação à Terra). Até aqui, o modelo de Ptolomeu
não diferia do modelo usado por Hiparco
aproximadamente 250 anos antes. A novidade
introduzida por Ptolomeu foi o equante, que é um
ponto ao lado do centro do deferente oposto em
relação à Terra, em relação ao qual o centro do
epiciclo se move a uma taxa uniforme, e que tinha
o objetivo de dar conta do movimento não uniforme
dos planetas. - O objetivo de Ptolomeu era o de produzir um
modelo que permitisse prever a posição dos
planetas de forma correta e, nesse ponto, ele foi
razoavelmente bem sucedido. Por essa razão, esse
modelo continuou sendo usado sem mudança
substancial por cerca de 1300 anos. No sistema
ptolomaico, centrado na Terra, a pequena esfera
chamada epiciclo que contem o planeta vai girando
associada a uma esfera rotativa maior, produzindo
um movimento retrógrado aparente sobre o plano de
fundo das estrelas longínquas.
http//pt.wikipedia.org/wiki/Ptolemeu
20O modelo de Ptolomeu (modificando o de Hiparco)
21A hipótese Copernico
- O astrônomo e padre polonês Nicolau Copérnico
propôs em 1543, no último ano de sua vida, que a
Terra poderia não ser o centro do Uni-verso, mas
que o Sol seria esse centro. Essa posição
conflitava não apenas com Aristóteles, que se
tornara parte das ortodoxias científica e
religiosa, como conflitava com a Bíblia que numa
passagem dizia que o Sol parara o seu giro ao
redor da Terra. - Conflitar com a Bíblia era um absurdo e isso foi
dito pelo frei alemão Lutero, que acabara de
começar o movimento que veio a ser chamado de
Reforma Protestante. Aos pouco a Igreja Católica
passou a concor-dar com Lutero e discordar de
Copernico e dos defensores seguintes do
heliocentrismo. - Nessa época começou cerca de um século de guerras
entre protestan-tes e católicos em grande parte
da Europa, ou seja, os ânimos estavam muito
acirrados.
22Os dados Tycho BraheO modelo para os dados
Kepler
- As medidas mais precisasConstruindo um grande
observatório o astrônomo dinamarquês Tycho Brahe
durante 3 décadas fez medidas muito precisas (a
olho nú!) dos movimentos dos planetas. Mais uma
vez ficava evidente que o modelo de Ptolomeu
funcionava bem em geral, mas que não funcionava
direito em detalhes, em especial para Marte. - Um modelo para interpretar os resultados das
medidasTycho contratou o físico alemão Johannes
Kepler para fazer essa análise. Após anos de
desespero, em que chegou a estar perto da
loucura, Kepler abandonou o modelo dos círculos
ptolomaicos pelo das elipses, com o Sol num dos
focos.
23O que é uma elipse?
24As 3 leis de Kepler-os planetas descrevem
órbitas elípticas, com o Sol num dos focos-o
raio que liga cada planeta ao Sol varre áreas
iguais em tempos iguais-o tempo que o planeta
demora para dar uma volta completa (T) está
ligado ao comprimento do eixo maior da elipse
(2a) pela relação T elevado ao quadrado dividido
por a elevado ao cubo é uma constante.
25Giordano Bruno/Galileu Galilei
- Brahe morreu no início do século XVII (1601) e
Kepler em 1630. Nessa época telescópios já tinham
sido aperfeiçoa-dos e Galileu Galilei, um físico
italiano, pode comprovar que os planetas pareciam
a Terra, e tinham até satélites, e que a via
Láctea era formada por estrelas. - Outros filósofos iam além. Giordano Bruno propôs
que o Universo era povoado por uma infinidade de
estrelas, como o Sol, e por outros planetas, nos
quais, assim como na Terra, existiria vida
inteligente. - A existência de várias Terras ou de uma
infinidade delas contrariava a Bíblia. Giordano
foi queimado pela Inquisição em 1600 e Galileu
foi forçado a se desmentir em 1633.
26Alguns dados do Sistema Solar
Planeta Distância média ao Sol R (106 km) Período T (ano) R3/T2 (1024 km3/ano2)
Mercúrio 57,9 0,241 3,34
Vênus 108,2 0,615 3,35
Terra 149,6 1,00 3,35
Marte 227,9 1,88 3,35
Júpiter 778,3 11,86 3,35
Saturno 1427 29, 5 3,34
Urano 2870 84,0 3,35
Netuno 4497 165 3,34
27À esquerda as estações no hemisfério norte,
mostrando a importância da inclinação do eixo da
Terra. À direita o mesmo desenho, mas mostrando
as linhas dos Trópicos e do Equador. (A órbita
está em perspectiva, ela é quase circular.)
28Mito grego explicando o ciclo anual das colheitas
e das quatro estações.
Na mitologia grega, Perséfone era uma linda
filha de Zeus e de Deméter, deusa da agricultura,
tendo nascido antes de seu pai se casar com a
deusa Hera. O deus Hades, do mundo subterrâ-neo
dos mortos, a queria em casamento e, sem querer
consul-tar Persefone ou seus pais, emergiu de
dentro da terra e raptou-a levando-a para seus
domínios (o mundo subterrâneo), fazen-do dela sua
rainha. Sua mãe, ficando inconsolável, acabou por
se descuidar de suas tarefas as terras
tornaram-se estéreis e houve escassez de
alimentos. Perséfone recusou-se a ingerir
qualquer alimento e começou a definhar. Deméter
e Hermes foram buscá-la ao mundo dos mortos, a
pedido de Zeus. Entretanto, a única maneira para
que ela pudesse sair do mundo dos mortos era se
ela não estivesse ingerido nada, mas ela havia
comido uma semente de romã. Diante desta
situação, fez-se um acordo ela passaria metade
do ano junto a seus pais, na superfície da terra,
e outra metade com Hades, abaixo da superfície.
29Newton
- Em 1687 um físico inglês, Isaac Newton, propôs
as leis gerais da Mecânica e a lei para a força
gravitacional. Juntando as duas leis é fácil
obter as leis de Kepler. - Durante mais de dois séculos a Mecânica de
Newton e a Gravitação de Newton reinaram
incontestadas. - Enquanto isto inúmeros aperfeiçoamentos
experimentais permitiram que as 6 mil estrelas
visíveis a olho nu fossem substituídas por
milhões e depois bilhões de estrelas. Além disso
foi possível avaliar, cada vez com maior
precisão, a distância entre as estrelas e a
Terra.
30Distância da Terra a estrelas muito próximas
(alguns anos-luz)
31A Relatividade Geral
- Refletindo sobre o fato da massa aparecer nas
leis da mecânica de Newton e na lei da gravitação
de Newton, Einstein viu que era necessária uma
nova mecânica. Nela nada pode viajar a
velocidades superiores à da luz.Uma das
consequências disto é que a gravita-ção passa a
ser associada a distorções do es-paço causadas
pela presença de objetos com massa. Essa teoria,
proposta cerca de um século atrás, foi
extremamente bem sucedida.
32Alguns tópicos relativísticos
- Precessão da órbita de MercúrioLentes
GravitacionaisLei de Hubble - Big Bang
- Expansão acelerada do universo
- Matéria escura e energia escura (96 do
universo?)
33As velhas leis de Kepler e a Mecânica de Newton...
- Hoje, com dados muito precisos do observatório
orbital Hubble, já se identificaram dezenas de
planetas orbitando ao redor de estrelas. - Além disso, com sondas espaciais, começamos a
saber algo sobre os satélites dos planetas do
nosso Sistema Solar. - Finalmente, usando as leis de Newton,
começamos a modelar como uma bola de gás se
condensa formando uma estrela e um conjunto de
planetas e seus satélites.