Title: A Comunica
1 A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
2A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- Uma revolução cultural
- Nosso tempo caracteriza-se pela difusão de
processos e instrumentos de comunicação deles
recebemos informação, distração e
entretenimento. - Primeiro areópago do tempo moderno
- O universo da mídia torna a humanidade uma
aldeia global, cria uma nova visão do homem e
da cultura. O advento da sociedade da informação
é uma revolução cultural, e a Igreja é chamada a
anunciar a mensagem da salvação a esta sociedade.
3A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- Os instrumentos como meio e mensagem
- A mídia é meio e mensagem, traz uma nova
cultura, que nasce antes de seus conteúdos. - Novos modos de se comunicar, com novas
linguagens e novas técnicas incidem sobre a
maneira de pensar, de agir, sobre os estilos de
vida, sobre a consciência pessoal e comunitária. - Não basta utilizar a mídia para difundir a
mensagem cristã, mas é preciso integrar a própria
mensagem nesta nova cultura que nasce a partir da
comunicação moderna.
4A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- A mídia a serviço do crescimento pessoal e social
- A mídia oferece formidáveis recursos para a
pessoa e para a sociedade. Constitui o passaporte
de ingresso de todo homem e toda mulher à moderna
praça de mercado onde se expressam publicamente
os pensamentos, onde se trocam as ideias e onde
circulam as notícias. - Fator primário de desenvolvimento social
- A mídia é também fator indispensável para o
crescimento da sociedade democrática pode pôr em
evidência a incompetência, a corrupção, os abusos
de confiança etc.
5A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- Avaliar atentamente os riscos
- A mídia pode comportar riscos evasão da
realidade, isolamento pessoal, condicionamento
destrutivo da vida democrática, política e
econômica. - Nasce daí a atitude de vigilância e às vezes de
crítica por parte da Igreja.
6A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
Fonte de desenvolvimento e progresso... mas
também de discriminação e mercantilização Se
usada corretamente, a mídia constitui um recurso
para o desenvolvimento dos povos pode assinalar
novas fronteiras entre zonas de riqueza e áreas
de pobreza. A tecnologia e os processos de
comunicação estão sempre relacionados com o
sistema econômico e comercial. O aumento dos
investimentos e dos lucros conduz à criação de
grupos monopolizadores, com risco de
condicionarem a visão e interpretação da
realidade. Também a procura obsessiva de ouvintes
favorece o achatamento para baixo e induz a
comunicação a se tornar banal e
vulgar. Necessidade de critérios éticos Quanto
mais aumenta a dependência da comunicação ao
sistema econômico, tanto mais resulta necessário
introduzir critérios éticos.
7A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
Perfis e características da nova cultura A
mídia possui a capacidade de pesar não somente
sobre a modalidade, mas também sobre os conteúdos
do pensamento. Os meios de comunicação são mais
que simples instrumentos são verdadeiros agentes
de uma nova cultura. Todo meio surgido nos
últimos tempos tem falado uma linguagem
própria. Transformações antropológicas e
sociais Toda nova linguagem possui inevitável
consequência antropológica e social, condiciona a
existência, a mentalidade e as relações pessoais.
Determina o desenvolvimento das atitudes e de
sensibilidades variadas, por exemplo maior
capacidade intuitiva a respeito da
analítica-sistêmica, mas também uma organização
lógica diferente do discurso do pensamento, do
tempo e do espaço. A mídia é portadora de uma
nova cultura na medida em que seu modo de
funcionamento leva a transformar a relação
tradicional com a realidade.
8A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
Um sistema complexo e em contínua mudança O
sistema de mídia se apresenta sempre homogêneo. A
mídia tradicional convive junto com a nova. A
primeira caracteriza-se pela cultura de massa
cinema, rádio, televisão, jornais. A segunda,
pela interatividade multimídia, cujo símbolo é a
internet. Confronto e diálogo com a cultura
midiática A questão central do novo milênio é a
inculturação da fé e a evangelização da cultura.
É preciso perguntar-se como deve ser remodelado o
anúncio do Evangelho e como iniciar um diálogo
com os meios de comunicação.
9A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
Proximidade e envolvimento A nova cultura das
mídias exerce influência sempre mais direta sobre
as pessoas e suas relações. A quantidade de
informações e possibilidades de entretenimento
pode ser acompanhada, paradoxalmente, de formas
de fragmentação pessoal e social, de uma crise
das formas tradicionais de proximidade. Separação
da distância geográfica, cultural e social Os
meios de comunicação podem alargar a busca de
relações. Abatem e destroem barreiras, que as
circunstâncias de espaço e tempo têm levantado
entre os homens. A mídia pode oferecer respostas
concretas ao desejo de comunicação e partilha,
participação e solidariedade. Tal desejo é uma
característica do mundo de hoje. A autenticidade
desejada pelo homem moderno vai além de emoções
imediatas e do individualismo, ela orienta-se
para os outros.
10A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- Conservar a memória e valorizar a tradição
- A experiência do fiel assume os fundamentos da fé
e do testemunho da tradição pô-la em discussão
conduz ao relativismo e à autonomia moral. Hoje a
tentação é dilatar o momento presente, negando
espaço e valor ao passado, à tradição e à
memória. As novas tecnologias transmitem e
inculcam uma série de valores culturais e modos
de pensar a respeito das relações sociais, a
respeito da família, da religião, da condição
humana, cujo fascínio e cuja novidade podem
desafiar e esmagar as culturas tradicionais. - Abrir horizontes de sentido com as novas
linguagens - O homem contemporâneo arrisca homogeneizar
todos os aspectos da vida. Tudo parece idêntico,
as diferenças desaparecem e uma escolha vale a
outra. - É preciso dar espaço a vozes que saibam falar
até o fim as linguagens midiáticas, usando
palavras inauditas e incômodas ao próprio mundo
da mídia, abrindo horizontes de significado que a
cultura midiática, por si, não é capaz de
entrever e representar.
11A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
Centralidade e responsabilidade da pessoa Os
meios de comunicação tendem a valorizar quem se
propõe aos outros em um envolvimento imediato e
vivaz. Arrastada pela velocidade da comunicação,
a própria humanidade tende a perceber-se como
único corpo capaz de solidariedade, mas também
submetida a um processo de massificação
irresponsável.
12A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- Condições para interagir com a cultura da mídia
- Recuperar a dimensão interior e transcendente
- São três os aspectos a observar em vista da
missão eclesial - A perda de interioridade
- O encontro superficial
- A substituição da verdade pela opinião.
- A identidade se transforma em máscara, no
sentido de identidade escondida, oculta. A
interioridade arrisca secar, cedendo espaço ao
narcisismo. É preciso trabalhar por uma cultura
da mídia que se abra à transcendência e promova
os autênticos valores espirituais.
13A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- Construir relações autênticas
- Uma segunda tendência a destacar é aquela que
tende a privilegiar o contato fácil e
superficial. Permanecer na superfície quer dizer
renunciar ao verdadeiro conhecimento e ao
reconhecimento recíproco. O mundo da comunicação
arrisca multiplicar e alimentar um sistema de
contatos superficiais e ocasionais. Se de um lado
a mídia pode produzir um processo de
despersonalização, por outro, pode favorecer o
desenvolvimento de relações autênticas. - A busca da verdade além da opinião
- O terceiro cuidado diz respeito à busca da
verdade. A busca da verdade é substituída por um
percurso ambíguo e instrumentalizador que conduz
a uma espécie de multiplicação da verdade. Daí
sairão visões de mundo e da vida sempre mais
ligadas a opiniões e sondagens, relativas em tudo
ou decididas a golpes de maiorias.
14A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
- A comunicação como ecossistema de relações
- Tendo em vista a construção de uma pastoral da
comunicação mais próxima à realidade de todos os
fiéis, fica cada vez mais clara a necessidade de
se elaborar um referencial que possibilite
entender o processo de comunicação mais como um
acontecimento centrado na pessoa e nas relações
entre os homens, do que como um fenômeno mediado
pelas tecnologias. - É preciso substituir o deslumbramento diante
das tecnologias pela reafirmação do ser humano
como um ser de comunicação, na comunidade. - Tal esforço se dá na comunidade pela comunidade,
mediante a integração dos sujeitos e dos grupos
sociais em ecossistemas comunicativos abertos e
criativos, sejam estes espaços da família, da
escola, da paróquia do ambiente de trabalho, ou
da própria mídia.
15A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo I Num mundo de mudanças
À procura do rosto de Cristo A internet permite
o aparecimento de bilhões de telas em todo o
mundo. Dessa galáxia de imagens e sons, emergirá
o rosto de Cristo? Ouvir-se-á a sua voz? Porque
somente quando o seu rosto for visto e a sua voz
for ouvida, o mundo conhecerá a boa notícia da
nossa redenção. Se não há espaço para o Cristo,
não há espaço para o homem. Olhar com os olhos
da fé para a mídia significa reconhecer não só os
seus limites, mas também sua potencialidade. É
preciso agir para torná-la um recurso a favor da
Igreja.
16A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
- A pessoa como ser dialógico relacional
- O ser humano é feito para relacionar-se. A
capacidade comunicativa revela a dimensão
transcendente da pessoa. - As coordenadas da existência, o tempo e o
espaço, assumem o seu efetivo valor quando se tem
em conta a natureza comunicativa do ser humano. - As comunicações sociais tendem a modificar os
parâmetros de identidade do ser humano, mas o
espaço e o tempo permanecem irrenunciáveis na
relação de encontro com os outros e com Deus.
17A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
O sujeito da comunicação A práxis comunicativa
tende a enfatizar o nexo, a rede, a
conectividade, relegando às margens as realidades
subjetivas e pessoais que constituem o coração de
toda a relação. A comunicação não pode ser
entendida como um mero conjunto de tecnologias e
de produtos, mas como um ecossistema de relações,
onde toda a ação do cristão se converte numa
partilha. O primado do testemunho A primeira
modalidade da comunicação da fé, mesmo na
aldeia global, permanece sendo o testemunho.
Onde quer que esteja, com qualquer um que se
encontre, através da mídia ou na relação
interpessoal, o fiel não pode fugir do seu dever
de testemunhar a fé.
18A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
Dinamismo de escuta e resposta Quem quiser
tornar-se comunicador dinâmico deve priorizar a
escuta, deve estar disponível ao encontro com o
sentido da própria existência. A escuta põe a
pessoa em relação com a realidade originária de
sentido. Quem comunica com autenticidade e
plenitude confirma essa relação e responde ao
apelo radical seja você mesmo. Relação e apelo
são um dom que se torna dever. Uma dimensão do
Espírito Criado à imagem de Deus, o homem é
chamado a orientar a própria vida em liberdade,
dirigindo com responsabilidade o seu caminho.
Essa liberdade pode ser usada para uma vida rica
de relações, mas também para anular qualquer
possibilidade de vida. A comunicação libera o
homem e se propõe como recurso para sua
realização e para sua felicidade.
19A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
A Revelação como forma de comunicação de Deus
com o homem A História da Salvação narra a
comunicação de Deus com o homem. Deus coloca no
universo um dinamismo ascendente, institui a
possibilidade de um autêntico diálogo entre o
criador e a criatura que atinge seu auge na
encarnação. Deus realiza aqui um salto
comunicativo de qualidade em seu Filho, Jesus de
Nazaré, não dialoga através de um anúncio
invisível, sob a tenda de reunião dos sábios ou
no tempo da antiga aliança, mas com a presença
pessoal do seu Verbo eterno.
20A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a
com.social
- A comunicação única e singular do Verbo
- Cristo revela-se como autocomunicação do amor de
Deus pelos homens, recapitulando tudo em si para
o Pai, rompendo a cadeia de incomunicabilidade
humana e orientando-a em direção a um futuro de
plena comunhão. O homem Jesus é a comunicação por
excelência de Deus para todo o homem como Filho
do Pai, ele é o ícone humano de Deus (cf. Cl
1,15). - O Verbo nos põe em comunhão com o Pai
- Jesus revela de modo exclusivo o Pai e
comunica seu rosto misericordioso. O amor do Pai
pelo homem torna-se visível e sensível no amor
mostrado por Jesus por todos e comunicado a
todos. - A própria pessoa de Jesus é a imagem viva do
amor de Deus e do seu desejo de relação com o
homem. Revelando-nos a perfeição do amor, Jesus
põe-se também como perfeito comunicador.
21A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
- Vida trinitária mistério de comunhão e
comunicação - Cristo revela de modo definitivo e inequívoco
o rosto de Deus uno e trino. O Espírito, vínculo
e elo de amor entre o Pai e o Filho, torna a
comunhão trinitária possível, constituindo-a como
lugar da comunicação e da doação recíproca entre
as três pessoas divinas. - Estamos aqui na raiz da origem do sentido da
comunicação e a fé cristã nos recorda que a
união fraterna entre os homens (fim primário de
toda a comunicação) encontra a sua fonte e quase
um modelo no mistério da eterna comunhão
trinitária do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
unidos em uma única vida divina.
22A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
Jesus palavra viva e eficaz Jesus é o ícone da
humanidade e da divindade em diálogo, em comunhão
verdadeira. O sábio uso das linguagens Quando
Jesus faz e fala, manifesta uma profunda
coerência a palavra subtrai o gesto da
ambiguidade, de modo especial aquela do prodígio,
ao interpretá-lo como sinal do Reino. Jesus se
comunica por meio de linguagens e gêneros
distintos fala por parábolas à multidão, mas,
como homem de sabedoria, debate e discute perante
os doutores da lei, segundo as regras
argumentativas do tempo. Gestos e palavras para
anunciar a todos a salvação Narração e discurso
argumentativo ou legislativo eram modalidades
para expressar a vontade de Deus. Jesus,
privilegiando o modo narrativo, usa parábolas às
vezes recorre às controvérsias e polêmicas, com
interlocutores como os fariseus, os doutores da
lei e o saduceus.
23A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
O sopro do Espírito e a novidade das
linguagens O Pai comunica ao Filho sua vontade
e envia o Espírito Santo para habilitar todo o
homem a acolhê-la e pô-la em prática. O Espírito
Santo permite não somente falar outras línguas,
mas consente ainda a escuta Cada qual os ouvia
falar na própria língua (At 2,6). A diversidade
de línguas não é mais obstáculo à
comunicabilidade ao se entrar em relação, porque,
no Espírito Santo, advém a unificação em uma só
linguagem, a do amor amor do Pai, manifesto em
Cristo morto, ressuscitado e unido com o
Espírito, no coração dos homens.
24A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a
comunicação social
A Igreja mistério de comunhão-comunicação A
Igreja nasce do evento comunicativo do Filho
Unigênito, o Verbo encarnado, que habita entre os
homens e reúne os discípulos por força da escuta
da sua palavra e da palavra do Pai, enviando-os
como suas testemunhas e anunciadores entre os
homens. O nascimento da Igreja é fruto da
participação doada à vida de Jesus por obra do
Espírito. Tal participação assume um rosto
histórico constituído de três elementos
fundamentais a partilha da fé, a celebração
eucarística e a vida fraterna. A comunhão, da
qual a Igreja vive, atualiza-se mediante
processos que implicam um dizer (anúncio) e um
fazer (celebrações e relações).
25A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
- A comunhão, princípio e fruto da comunicação
- A comunhão não somente está no princípio da
comunicação, mas também é seu resultado. A
1ªCarta de João recorda que o anúncio nasce de
uma experiência de comunicação e comunhão, e o
seu fim é fazer os ouvintes participarem de
idêntica comunhão. Originária do evento
comunicativo do Verbo, a Igreja é constituída
essencialmente como transmissão daquele evento de
comunicação entre os homens nas formas
comunicativas da sociedade humana. - A sacramentalidade do mundo, do Cristo e da
Igreja - A sacramentalidade do mundo encontra sua
origem na criação. A sacramentalidade fundamental
do Cristo faz com que possa ser chamado e
descrito como o sacramento do encontro do homem
com Deus. A autoconsciência da Igreja como
sacramento universal da salvação não pode deixar
de acompanhar todo o momento da comunicação da fé
que nela se atualiza e por ela é gerada.
26A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
- Uma Igreja guiada pelo Espírito Santo, capaz de
comunicar a fé - ... no dinamismo da escuta e do anúncio
- A Igreja é chamada a pôr-se em religiosa
escuta da Palavra, - reconhecendo-a como dom a partilhar com todos os
homens. Na escuta da Palavra e na abertura orante
do coração, perpetua-se o prodígio do
Pentecostes, que permite à Igreja assumir, sob o
estímulo e a direção do Espírito Santo, as
linguagens e as atitudes mais idôneas em todos os
tempos e situações, para fazer chegar o anúncio
do evangelho a todos. - A evangelização consiste na comunicação dessa
Palavra a partir da fragilidade das linguagens do
homem. O dinamismo da escuta e do anúncio requer,
de um lado, que se faça referência constante à
Palavra originária revelada nas Sagradas
Escrituras e transmitida na tradição viva da
Igreja do outro, que se conserve uma atenção
vigilante e crítica perante as possibilidades e
os limites das formas comunicativas próprias das
diversas épocas históricas e das linguagens
adotadas.
27A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
...na peculiaridade da linguagem litúrgica A
força comunicativa da Palavra de Deus emerge de
maneira precípua e singular na celebração
litúrgica. É nela que o anúncio ocorre. Não mais
apenas expressões verbais, mas realidade. No rito
sacramental cristão a polivalência própria do
símbolo coisa e gesto é complemento da
palavra que sempre o acompanha, explicando os
seus significados. Os sacramentos realizam aquilo
que anunciam verbalmente e se tornam de tal
maneira lugares de profunda comunicação entre o
mistério de Deus e a experiência humana. ...em
ser sinal e instrumento de caridade O
testemunho do amor é o tecido coletivo da
comunhão cristã, o reflexo do amor divino.
Anunciar, celebrar, servir são as três
modalidades constitutivas da comunidade cristã no
seu vínculo ao Reino de Deus que se torna
presente e, ao mesmo tempo, constitui a meta em
direção à qual o homem incessantemente tende.
28A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo II O mistério do ser humano e a com.
social
- A harmonia entre o conteúdo da comunicação e o
médium humano - Como exprimir completamente o mistério do
Reino com palavras e gestos humanos? Os
instrumentos mais simples e imediatos (palavras,
gestos dos homens em suas relações) resultarão os
mais adequados, ainda mais, talvez, do que os
instrumentos mais sofisticados e tecnologicamente
avançados. - A comunicação na ótica da graça de Deus
- Existe, por um lado, a convicção de que os
resultados da comunicação da fé são sempre e de
qualquer maneira obra da graça, mais do que da
energia e dos meios humanos. De outro lado, nos
sentimos convidados a considerar com espírito
crítico as tecnologias e a cultura que as
acompanha. Igualmente no campo da comunicação
social, aquilo que ao fim conta é a capacidade de
refletir a glória de Deus, anunciando-a,
testemunhando-a com uma vida de santidade.
29A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
- A fé como fato cultural
- O desafio consiste em conduzir os fiéis a
pensar e viver a fé como fato cultural que
empenha a todos no discernimento e na
criatividade. A comunicação social se torna
processo, conteúdo e rede. É processo porque foi
em espaços de intensas e ricas experiências de
relação comunicativa e comunitária que Cristo,
sua mensagem e os apóstolos motivaram os cristãos
ao transmitir amor fraterno. - Revela-se conteúdo porque abarca o
comportamento, as tendências e os - estilos de vida contemporâneos. Finalmente
converte-se em rede de relações, em virtude das
novas e originais ocasiões oferecidas pelos meios
de comunicação midiática a uma cultura
cristãmente inspirada, para que se difunda e
entre em diálogo com outras culturas. - Desvalorizar, por um lado, a comunicação como
experiência de vida que surge da e na comunidade
e, por outro, ignorar o mundo das tecnologias, ou
subestimar sua capacidade de incidir sobre as
consciências, significa privar-se da
possibilidade de evangelizar a cultura moderna.
30A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
Comunicação e a experiência de vida
comunitária A comunicação como experiência de
vida representa o primeiro degrau da compreensão
do que sejam as relações de comunicação. De nada
valem tecnologias e complexos projetos pastorais
de comunicação se não estiverem embasados no
propósito de unir as pessoas e de criar
oportunidades de expressão, fortalecendo redes de
convivência e de ação. A existência da comunidade
testemunhando fraternidade é o primeiro conteúdo
comunicativo pedido aos cristãos.
31A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
Os princípios da retórica e da comunicação
humana Toda época e contexto querem sua
linguagem específica. A Igreja sempre teve isso
presente ao anunciar a Palavra de Deus. Agostinho
aplica à comunicação da fé os princípios da
retórica clássica (cf. De doctrina christiana e
De catechizandis rudibus) e Gregório Magno
recomenda aos pregadores os princípios da
comunicação humana como parte essencial de sua
obra pastoral, adaptando-se ao caráter e às
necessidades das próprias pessoas (cf. Regula
pastoralis). Com a invenção da imprensa, a
comunicação da fé se encontra diante do desafio
de elaborar uma transmissão atenta a uma
população sempre mais numerosa e alfabetizada.
32A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
A cultura da comunicação A Igreja passou a
fazer uso de algumas ferramentas e novas
possibilidades da mídia, sem dispensar um atento
discernimento à cultura gerada pelos instrumentos
midiáticos. Relevância da linguagem
artística No progressivo diferenciar-se das
linguagens, não perderam o próprio papel as
várias expressões artísticas, que são memória
viva que atestam a tradição do povo cristão e sua
fé. O Bem-aventurado João Paulo II dirigindo-se
aos artistas diz que a arte é, por sua natureza,
uma espécie de apelo ao mistério.
33A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
Comunicação social e conversão pastoral Para
prosseguir a sua missão neste novo contexto
cultural, requer-se da Igreja, que existe para
evangelizar, uma conversão pastoral. Essa
conversão exige que se vá para além de uma
pastoral de mera conservação, para uma pastoral
decididamente missionária.
34A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
Formação e novas competências Uma formação
específica no âmbito da comunicação deve ser
pensada pela Igreja. Não basta que essa educação
esteja centrada na técnica do fazer midiático.
Deve oferecer condições para o exercício de uma
comunicação dialógica. Importante ter uma
metodologia para ler o contexto social e cultural
em que a comunicação se dá como processo,
conteúdo e rede. Uma proposta de educação para a
comunicação deve estar presente nos percursos de
formação dos cristãos, sendo ativada nas
famílias, na escola, na paróquia e nas
associações leigas. É o que propõe a
educomunicação, ao assinalar para a necessidade
de que o tema da comunicação seja contemplado
como eixo transversal de todo o planejamento
pastoral e catequético, imprimindo-se à sua
prática um caráter dialógico. A paróquia na era
da mídia também obriga-se a redefinir sua
fisionomia. Continua a ser a comunidade dos
vínculos pessoais, da caridade tangível, dos
encontros formativos diretos e dos sacramentos,
mas encaminha-se para comunicar também pela
internet e suas inúmeras possibilidades de
relacionamento e informação.
35A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
Novos recursos para a comunidade A mídia
representa um novo recurso para a formação dos
fiéis. Entra nessa lógica a escolha de cada
comunidade cristã de dotar-se de um centro de
comunicação multimídia, onde se formem agentes da
comunicação. A partir da contemplação do rosto
de Deus A ação pastoral deve adequar-se às
exigências ditadas pela nova cultura midiática. A
adequação investe todas as dimensões da vida
eclesial, sem limitar-se a simples adaptação aos
instrumentos. Técnicas comunicativas a aprender e
comunicar, mas, sobretudo, inteligência e coração
na contemplação do rosto do Pai e do seu Filho, o
Verbo feito carne. Com específica dimensão
espiritual Também neste campo deve-se perseguir
o chamado à santidade, em sintonia com o projeto
de Deus e guiados pela ação do Espírito Santo.
Basta lembrar os santos que se dedicaram ao
Senhor com uma atenção especial aos meios de
comunicação.
36A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
No espírito da catequese renovada A
evangelização constitui a missão fundamental da
Igreja em todo o tempo e cultura, e a catequese
representa a obra educativa da comunidade. Ao nos
interrogar sobre as formas de evangelização,
vemos que os instrumentos de comunicação oferecem
aos catequistas novos recursos e novos percursos
para a educação da fé. Materiais audiovisuais,
produções musicais, cinematográficas e
televisivas a multiplicidade de sites religiosos
constituem novos e preciosos recursos aos
catequistas.
37A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
As atitudes dos catequistas Adotar uma
comunicação dialogante, servir-se dos
instrumentos facilitadores da informação são os
princípios básicos da comunicação requeridos de
um bom catequista. É também impensável fazer
catequese renunciando a um discernimento atento
tanto do perfil sociopsicológico dos
destinatários, assim como do contexto cultural em
que estão inseridos. Isso significa estar atento
ao cotidiano, à história pessoal de cada
interlocutor, incluindo suas experiências com a
mídia. Ao comunicador da fé é requerido saber
modular símbolos, parábolas, narrativas,
testemunhos que falam de uma fé livre e
responsável saber usar os registros da
comunicação linguagem verbal e não verbal,
imagens e sons, obtendo na mídia ilustrações e
evocações, propondo novas metáforas da fé,
suscitando interesses e emoções.
38A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
Valorização do patrimônio artístico Uma atenção
particular volta-se para a arte. A catequese é
uma ocasião para fazer uso do patrimônio
cultural, histórico e artístico através de
peregrinações com itinerários que atinjam as
fontes da espiritualidade e da cultura
religiosa. A beleza como acesso ao mistério A
arte e o local celebrativo podem se tornar
possíveis lugares de encontro com o mistério. A
arte não somente torna perceptível, mas
frequentemente também fascinante o mundo do
espírito, do invisível, de Deus.
39A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
- A liturgia como ação comunicativa
- Liturgia e comunicação possuem muitos aspectos
em comum ambas realizam-se por meio de sinais e
ações simbólicas ambas requerem gestualidade e
participação. O ritual litúrgico explicita o
diálogo permanente entre Deus e o seu povo Deus
o reúne porque tem algo a comunicar. A liturgia é
um evento comunicativo porque nele atualiza-se o
diálogo entre Deus e o homem. Na experiência
litúrgica, ocorre aquela forma de comunicação da
fé que em outro lugar e de outro modo não podia
dar-se. - A forma ritual envolve o homem todo e os seus
sentidos. A liturgia não é somente um meio
expressivo de conteúdos já elaborados, mas se
torna ato revelador e originário de uma
comunicação.
40A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
- A linguagem celebrativa
- A forma litúrgica não tem como primeiro dever
narrar os eventos fundantes ou ilustrar os
conteúdos da fé, mas representar aqui e agora a
sua força que salva e transforma. A compreensão
da liturgia, antes que conceitual, deve ser
simbólica. O tempo e o exercício, os sentidos e a
matéria, o corpo e o espírito tornam-se
componentes essenciais. - Somente quando é salvaguardada a natureza,
feita de comportamentos rituais, ricos de sentido
e conteúdo, a celebração introduz a experiência
do mistério divino, que é experiência da
gratuidade e da liberdade.
41A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
- Por uma plena valorização das palavras e dos
gestos - Um ambiente comunicativo adequado favorece a
atualização da celebração litúrgica, valoriza os
gestos e as palavras, os sinais e os símbolos, as
luzes e as sombras, os momentos de silêncio, os
cantos e as palavras proclamadas. - A linguagem simbólica não junta palavra a
palavra, sinal a sinal, mas é o local em que se
desvela um horizonte mais vasto de percepções. A
ação litúrgica tem o objetivo de ampliar a
capacidade perceptiva para que o fiel possa
aproximar-se de Deus além das coisas e das
palavras.
42A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
- A linguagem da homilia
- A homilia é parte da própria liturgia. Sem o
respeito à sua natureza ritual, a pregação corre
o risco de oscilar entre a consolação e a
apologia, transmissão sistemática de conteúdos
doutrinais e adequação às modas e tendências
linguísticas. Os fiéis nela recolhem frutos,
contanto que seja simples, clara, direta,
adaptada, profundamente radicada no ensinamento
evangélico e fiel ao magistério da Igreja,
animada de um ardor apostólico equilibrado, plena
de esperança, nutriente da fé, geradora de paz e
de unidade É preciso respeitar as cinco
finalidades da homilia - Guiar os fiéis para compreender e apreciar a
Escritura - Abrir o seu coração para dar graças
- Conduzi-los ao ato de fé pelo que diz respeito
àquela Palavra que na - celebração se faz sacramento
- Prepará-los a uma frutuosa comunhão
- Exortá-los a assumir os compromissos de uma
vida cristã.
43A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
A santa missa transmitida pela mídia Muitos
momentos da vida litúrgica e da experiência
religiosa são hoje objeto de transmissões
televisivas e radiofônicas e vêm emitidos através
das redes informáticas, com grande utilidade para
muitas pessoas. É preciso trabalhar pelo contínuo
aperfeiçoamento do conteúdo e das técnicas destas
transmissões. É importante a sobriedade das
imagens e a pertinência do comentário. Não é
possível equiparar a participação direta e real
àquela mediada e virtual, por meio dos
instrumentos de comunicação. Resulta desviante
transmitir celebrações sacramentais gravadas ou
de modo repetitivo através da mídia. Menos ainda
pode-se pensar que as celebrações sacramentais
possam proceder da mídia, como foi conjeturado
por alguns para o sacramento da penitência.
44A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
Critérios para a difusão das celebrações A
comunidade eclesial donde a missa é transmitida,
consciente da situação particular devida à
presença de instrumentos midiáticos,
empenhar-se-á a tornar a celebração exemplar,
também por meio de uma preparação dos fiéis e de
um especial senso de entendimento com os técnicos
de comunicação. Tendo tais transmissões como
público privilegiado, mesmo que não exclusivo, os
doentes e idosos, espera-se um envolvimento
sempre maior da parte da comunidade que, no
contexto paroquial ou das instituições de
recuperação, possa criar um contato interpessoal
e possivelmente enviar ministros extraordinários
para levar a Eucaristia aos doentes.
45A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
A comunicação como serviço e expressão de
caridade A comunicação pode oferecer novos
caminhos e possibilitar desenvolvimento ao
testemunho da caridade. Enquanto fator de
comunhão e partilha, a comunicação deve ser
considerada expressão eminente da caridade.
Caminho para a promoção da justiça A Igreja é
consciente do dever de exercer no mundo da mídia
uma função profética, denunciando o mal e a
injustiça, e encorajando seu uso, sobremaneira
para anunciar o bem e o Evangelho vivo e vivido.
Testemunhar a verdade última do amor é a melhor
comunicação que a Igreja pode realizar. A Igreja
conclama os comunicadores a assumir sua
responsabilidade e de sua parte se empenha em
formar comunicadores.
46A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
- A comunicação em alguns âmbitos da vida eclesial
- A propósito da relação entre comunicação e
vida da Igreja, é preciso recordar o direito
fundamental ao diálogo e à informação no seio da
Igreja, assim como é afirmado na Communio et
progressio, e a necessidade de continuar a buscar
quais são os modos eficazes para favorecer e
proteger este direito, em especial com a
utilização responsável dos meios de comunicação. - A opinião pública eclesial deverá ser fruto
de uma prática comunitária e comunicativa, que
saiba respeitar os mais altos modelos de
veracidade, afabilidade, sensibilidade aos
direitos humanos e outros princípios e normas
relevantes. - Todos na comunidade eclesial são chamados a
exercer o direito originário de expressar
livremente as próprias ideias, com atitude
construtiva, com franqueza, mas também com a
advertência de evitar atitudes e intervenções
públicas que possam prejudicar a verdade, a
comunicação e a unidade do corpo eclesial.
47A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
- Em diálogo constante e sincero com os pastores
- É fundamental uma troca sincera de opiniões
entre os fiéis e os pastores. No espírito da
obediência diante dos pastores da Igreja, os
fiéis têm o direito de manifestar as próprias
necessidades, sobretudo espirituais, e os
próprios desejos. - O diálogo e a troca de opiniões entre pastores
e fiéis, na liberdade e na responsabilidade,
segundo as indicações do magistério, são
expressões importantes do direito fundamental ao
diálogo e à informação no seio da Igreja. - O serviço da verdade e o discernimento dos
pastores - Os meios de comunicação social contribuem de modo
relevante à difusão da verdade cristã, mas às
vezes podem veicular mensagens e amplificar
intervenções que criam confusão e desorientação
entre os fiéis. Por isso, todos são chamados a
usá-los com grande prudência, principalmente
quando se trata de conteúdos essenciais da fé e
da moral.
48A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo III A inculturação da fé nos tempos
midiáticos
A perspectiva ecumênica e inter-religiosa
Particular atenção merecem o ecumenismo e o
diálogo com outras religiões. A colaboração
ecumênica pode realizar-se em todos os campos da
comunicação social essa já é por si um
testemunho oferecido ao mundo. Esta colaboração
poderá, ao mesmo tempo, atuar sobre o plano
local, regional ou internacional. Promover
conjuntamente a justiça e a paz O crescente
pluralismo religioso coloca novas questões de
relevância, seja pela relação entre as várias
crenças, seja pelo testemunho que, conjuntamente,
podem dar ao mundo, sob o prisma dos valores
religiosos e de sua contribuição ao bem da
humanidade. No que diz respeito à paz, à justiça,
à dignidade humana, ao valor à vida, à superação
da pobreza e, sobretudo, ao primado da dimensão
espiritual, as religiões são chamadas a um
testemunho e a uma comunicação unânime.
49A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
- Educação para a mídia e através da mídia
- O leitor, o telespectador, o ouvinte de rádio,
o navegador da internet devem ser considerados os
protagonistas da comunicação. Quem usufrui dos
produtos midiáticos pode sancionar seu sucesso e
seu fracasso. - Todos devem estar em condições de interagir
com o universo da mídia de modo crítico e
criativo, adquirindo uma nova competência
midiática. - Todas as instituições educativas família,
escola, paróquia deverão empenhar-se na formação
dos protagonistas da comunicação. A Igreja
recomenda a educação para a mídia a partir do
decreto Inter mirifica, uma vez que o reto uso
dos instrumentos de comunicação exige uma
preparação teórica e prática adequada e
específica.
50A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
- Educar para a mídia e através da mídia processo,
conteúdo e redes - Para que a comunicação como processo, conteúdo e
rede esteja presente na vida do cristão e em toda
a ação pastoral da Igreja, torna-se indispensável
pensar na urgência de uma ação educativa
específica, sistemática, adequada e eficaz no
campo da comunicação. Trata-se de um projeto a
ser desenvolvido em três âmbitos - Educação para o processo comunicativo
- Educação para o exercício da produção de
conteúdos evangelizadores - Educação para a convivência com o mundo da
informação, incluindo tanto a relação com a
indústria da informação, quanto o uso estratégico
dos recursos da informação na ação
evangelizadora. - A essa responsabilidade educativa complexa e
abrangente não é legítimo subtrair-se a educação
deve ser prevista em toda a ação pastoral, sendo
alimentada continuamente, levando em conta o
caráter comportamental e existencial de todo o
processo comunicativo.
51A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
- Educar para a mídia e através da mídia processo,
conteúdo e redes - Deve também ser prevista uma formação que
motive os cristãos ao exercício da produção de
conteúdos evangelizadores na catequese e no
catecumenato, de modo que os próprios cristãos
sejam comunicadores da fé. - A metodologia da educomunicação que vem
incentivando crianças, jovens e adultos não
profissionais a dominarem recursos da informação,
utilizando-os na produção de conteúdos, pode
representar uma referência para a ação educativa
prevista na pastoral da comunicação. - O desenvolvimento das tecnologias
comunicativas comporta novas competências
críticas e exige uma real participação
democrática. Torna-se sempre mais urgente formar
os públicos receptores e os comunicadores sobre a
base de princípios cristãos em especial as
universidades, colégios e escolas católicos
deveriam oferecer cursos a vários grupos
sacerdotes, religiosos e religiosas,
seminaristas, animadores leigos... de formação em
tecnologia, gestão, ética e política da
comunicação.
52A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
Família e mídia Do vínculo que a família
estabelece com a mídia depende o papel que essa
assume na sociedade e a capacidade de incluir
seus modelos de pensamento e comportamento.
Interessam aos profissionais da mídia as
modalidades de consumo midiático das famílias,
para melhor dirigir seus apelos publicitários. À
família cabe equipar-se culturalmente para saber
discernir as mensagens de qualidade daquelas
inspiradas pelo consumismo.
53A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
A mídia no prisma cotidiano das famílias As
casas tornaram-se sempre mais uma pequena central
de mídia. Os pais devem estar preparados a
conviver com a mídia e a educar seus filhos
para que saibam interagir de modo competente,
crítico e eticamente responsável. Os meios de
comunicação podem exercer uma influência benéfica
sobre a vida e os costumes da família, e sobre a
educação dos filhos, mas ao mesmo tempo escondem,
também, insídias e perigos não irrelevantes,
podendo tornar-se veículos de ideologias
desagregadoras e de visões deformadas da vida, da
família, da religião, da moralidade,
desrespeitosas da verdadeira dignidade e do
destino do homem.
54A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
- De espectadora a protagonista da cultura da mídia
- A família é o primeiro lugar onde um indivíduo
cresce, forma-se e amadurece sua personalidade.
Aí sofre a presença maciça e incisiva da mídia.
Cabe aos familiares reapropriarem-se do papel
ativo dos usuários, capazes de avaliar
criticamente o que chega através da mídia. É
preciso favorecer um clima onde seja possível
crescer com autonomia de juízos e escolhas. - Atenção às novas gerações
- Tudo isso vale para as crianças e os jovens,
ou seja, a quantos se encontram em condição de
especial vulnerabilidade por estarem em meio de
processos de construção da personalidade e da
socialização. - Todos deverão ser encaminhados para uma
formação crítica com relação aos meios de
comunicação, resistindo à tentação da passividade
acrítica, a pressões exercidas por parte dos seus
companheiros e ao desfrute comercial.
55A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
Os jovens e as novas tecnologias Com os jovens
é possível recuperar os recursos midiáticos do
nosso tempo, enfatizando a rede de internet. No
ciberespaço, como em outros lugares, os jovens
podem ser chamados a andar contra a corrente, a
exercitar a contracultura, correndo o risco de
sofrer perseguições pela verdade e pelo bem. É
necessário garantir aos mais jovens, na presença
de uma vertiginosa aceleração do tempo e de uma
ruinosa perda do passado e da memória, a
possibilidade de entrar em contato com as
próprias raízes, a própria a herança cultural e o
senso vivo da tradição.
56A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
- Escola e comunicação social
- Ganham cada vez mais visibilidade as experiências
que objetivam - Rever os procedimentos educativos mediante a
busca de relações dialógicas entre mestres e
alunos - Promover exercícios de produção midiática,
ampliando a competência de professores e alunos - Desenvolver metodologias de análise crítica
sobre a presença de meios de informação e de seus
impactos sobre a sociedade. - A mídia constitui uma espécie de escola
paralela bem mais persuasiva e sedutora que as
formas tradicionais de distribuição de informação
praticadas pela educação formal tradicional.
Espera-se das escolas católicas que ofereçam a
sua contribuição particular para uma aproximação
adequada às inovações tecnológicas. O novo
contexto midiático interpela o perfil dos
docentes e dos educadores em sentido amplo.
57A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
Novos dinamismos nas trocas geracionais É
certo que não se educa somente com a escola, mas
muito menos sem ela. É sua tarefa favorecer o
desenvolvimento pessoal e da sociedade em todas
suas dimensões, através de uma ação atenta de
comunicação intelectual e uma troca entre as
gerações, que permita partilhar o patrimônio da
tradição e da cultura. No contexto social e
político do país O compromisso da comunidade
eclesial no setor da comunicação não permite
esquecer o fato de que a participação pública no
processo decisório relativo à política das
comunicações... deve proporcionar uma
participação organizada, sistemática e
autenticamente representativa, não desviada em
favor de grupos particulares. Entra na missão
da Igreja a contribuição à definição de uma
política sadia das comunicações sociais.
58A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
- Em diálogo com os responsáveis da mídia
- A Igreja põe-se em constante busca de diálogo com
os responsáveis da mídia, aprofundando aspectos
culturais, sociais e políticos. Será, assim,
possível elaborar propostas significativas para
remover obstáculos ao progresso humano e à
proclamação do Evangelho. O Bem-aventurado João
Paulo II convidou os católicos a participar da
elaboração de um código deontológico feito para
todos aqueles que trabalham com a comunicação
social, deixando-se guiar pelos critérios - Respeito à dignidade da pessoa humana
- Estima das diversas culturas
- Busca do bem comum.
59A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
Saber valorizar as novas tecnologias A internet
pode se tornar extraordinário meio de comunicação
e de progresso cultural da sociedade. Pode ser
um lugar de encontro, e também de verdadeira e
adequada elaboração da cultura católica, voltada
sobretudo para a paz, para a solidariedade e o
diálogo. Comunicação da fé e opinião pública A
mídia dá acesso direto à informação e suprime a
distância de espaço e tempo. Transforma a maneira
de perceber as coisas a realidade cede espaço
àquilo que desta vem mostrado. A repetição
contínua de informações selecionadas se torna
fator determinante para criar uma opinião
considerada pública. A Igreja percebe a urgência
de dotar-se da própria mídia, e da necessidade de
reforçar e precisar a modalidade de intervenção
no interior dos meios de comunicação. Os temas
referentes à fé e às questões morais necessitam
de um procedimento lógico e argumentativo, que
requer tempo e atenção, condições que raramente a
mídia garante.
60A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
Valores religiosos e legitimação social na mídia
Temas, problemas e reivindicações
midiatizados vêm sendo percebidos pela opinião
pública com prioridade aqueles que estão
ausentes do sistema midiático, ao contrário, são
marginalizados e tornam-se insignificantes. Daí a
necessidade de inverter certa espiral do
silêncio, às vezes praticada pela mídia, relativa
à experiência de fé, à grande tradição cristã e
aos próprios valores humanos fundamentais, como o
respeito à vida, à natureza, à família fundada
sobre o matrimônio, à solidariedade entre os
povos. Àqueles que intervêm na mídia é necessário
formação e competência, para evitar que ofereçam
mensagens pouco claras .
61A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
O primado da questão ética A dimensão ética da
comunicação Os instrumentos midiáticos são
sempre mais sofisticados, mas também submetidos a
pressões econômicas e políticas. A questão ética
se faz presente. Veladamente existem novas e
pesadas formas de alienação, que podem conduzir à
reificação, à redução da pessoa a coisa, o
objeto, a mercadoria. A ética erige-se como saída
para a humanização de processos destinados a
provocar consequências fortemente negativas, no
plano pessoal, relacional e social.
62A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
- A responsabilidade dos profissionais
- Os profissionais da mídia podem servir-se do
seu poder para personalizar indevidamente a
comunicação, substituindo-se à mensagem. Tal
procedimento pode determinar certa dependência do
usuário, cuja autonomia de julgamento e de
escolha pode ser comprometida. - As boas intenções não garantem por si só uma
boa informação as notícias hão de ser fornecidas
com competência profissional, com respeito pleno
e profundo à verdade. - A consciência moral, individual ou social vem
sendo, hoje, submetida, por conta da influência
invasiva dos múltiplos instrumentos da
comunicação, a um perigo gravíssimo e mortal o
da confusão entre o bem e o mal.
63A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
A centralidade da pessoa e o bem comum Dupla
perspectiva deve guiar a ética da comunicação
aquela relativa à centralidade da pessoa,
entendida seja como sujeito que comunica, seja
como fruidora e aquela do bem comum. Nesse
sentido, grande e grave é a responsabilidade dos
profissionais da mídia, chamados a empenhar-se
para que as mensagens transmitidas com tanta
eficácia contribuam para a cultura da vida. De
nenhum modo o recurso ambíguo ao respeito das
liberdades individuais pode justificar a
substancial ausência de consciência ética e de
intervenção protetora e fiscalizadora da parte
das autoridades públicas.
64A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
A verdade como horizonte Comunicar de modo
honesto significa servir à verdade do homem e ao
seu destino pessoal e social. A legítima
liberdade nas comunicações sociais não poderá
jamais dissociar-se da referência à verdade. A
liberdade de fato só existe pela verdade e apenas
a verdade torna livre. Isso comporta o dever de
não deformar os fatos, de recusar consensos ou de
manipulá-los segundo interesses particulares ou
de grupos de poder econômico ou político a quem
se atende de não adequar a mídia a fins
ideológicos, de não fazer apelo aos instintos e
emoções para impor estilos de vida distorcidos.
65A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
A justiça como objetivo permanente A difusão e o
desenvolvimento dos meios de comunicação parecem
encurtar pouco a pouco a distância entre os
homens e a comunidade, mas desencadeiam novos
processos de injustiça social e cultural.
Reafirma-se que o único horizonte aceitável é
aquele do bem comum, de maneira que a posse e o
acesso aos bens culturais promovidos através da
mídia não possam senão inspirar o valor humano da
justiça. As tecnologias da comunicação e da
informação, com a formação para seu uso,
constituem uma das condições para romper as
barreiras e os monopólios que deixam tantos povos
à margem do desenvolvimento e podem contribuir
para assegurar a todos, indivíduos e nações, as
condições de base que permitem participar do
desenvolvimento.
66A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo IV A mídia e a urgência educativa
A responsabilidade perante a criação
Inaceitável será a adoção de tecnologias que
possam ter efeitos negativos sobre o ambiente e
sobre a saúde. A consciência crente é chamada a
vigiar para que não se verifique uma selvagem
proliferação de tecnologias que transformem a
criação em mera realidade instrumental,
esquecendo a sua origem e a sua finalidade.
67A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo V A solicitude pastoral da Igreja no
tempo da mídia
- As comunicações sociais na pastoral da Igreja
- A comunicação social é uma componente
essencial da nova evangelização. Em toda a ação
da Igreja requer-se uma maior atenção ao uso
sábio e original da mídia, no quadro de uma
pastoral orgânica das comunicações sociais. - Para enfrentar os problemas da fé na sociedade
dominada pela mídia, não basta melhorar os
instrumentos ou fiar-se às novas tecnologias é
indispensável entender os desafios culturais
lançados à sociedade e à Igreja a partir do novo
horizonte comunicativo.
68A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo V A solicitude pastoral da Igreja no
tempo da mídia
- Tornar mais incisiva a ação da Igreja
- Deve-se prever uma orientação educacional para
a comunicação propositiva e crítica em relação
aos processos comunicacionais e à mídia, atenta à
evolução das suas linguagens. Todo o projeto
pastoral deve ter em conta os vínculos entre
linguagem da fé, novas linguagens midiáticas e
novas formas de relacionamento. - A Igreja é chamada a agir no cerne da cultura
da comunicação. Constitui verdadeiro desafio para
a evangelização, a catequese e a formação, o novo
contexto fragmentado, pluralístico,
multirreligioso e multiético no qual a comunidade
cristã está inserida. - Todos devem se familiarizar com os
instrumentos midiáticos e com as novas mídias.
Para saber interpelar a cultura midiática, a
Igreja deve promover nas dioceses e paróquias,
assim como nos centros de educação e cultura, um
diálogo com a cultura da mídia, esforçando-se em
conhecer as novas linguagens midiáticas.
69A Comunicação na vida e a missão da Igreja no
Brasil
Capítulo V A solic