FERNANDO PESSOA - PowerPoint PPT Presentation

1 / 87
About This Presentation
Title:

FERNANDO PESSOA

Description:

FERNANDO PESSOA A L rica (Poesia) Moderna Duas polaridades: Uma l rica intelectualizada, de grande rigor formal, iniciada por Mallarm e continuada por Val ry ... – PowerPoint PPT presentation

Number of Views:154
Avg rating:3.0/5.0
Slides: 88
Provided by: Rox7
Category:

less

Transcript and Presenter's Notes

Title: FERNANDO PESSOA


1
FERNANDO PESSOA
2
A Lírica (Poesia) Moderna
  • Duas polaridades
  • Uma lírica intelectualizada, de grande rigor
    formal, iniciada por Mallarmé e continuada por
    Valéry, pela qual a poesia deve ser uma festa do
    intelecto
  • uma lírica formalmente livre, alógica, iniciada
    por Rimbaud e elevada às últimas conseqüências
    pelo poeta surrealista André Breton, pela qual a
    poesia deve ser a derrocada do intelecto.

3
A Lírica Moderna
  • É marcada por uma tensão entre as forças
    cerebrais, de uma lírica intelectualizada, e o
    impulso anárquico, de uma lírica livre e
    alógica.

4
A Lírica Moderna
  • Característica comum a todos os artistas da
    vanguarda moderna a ruptura com a tradição
    cultural e o desejo de criar uma nova estética em
    face à crise da humanidade provocada pelos
    horrores do entre-guerras.

5
A Lírica Moderna
  • A poesia vanguardista moderna é a poesia da
    sugestão, ou seja, tende mais a sugerir do que a
    comunicar.
  • A poesia deve provocar no leitor apenas uma
    sugestão mágica, sem nenhuma pretensão de ser
    compreendida.

6
A Lírica Moderna
  • O poeta moderno agride o leitor com seus versos
    inefáveis, inexplicáveis, alimentando-se do
    prazer aristocrático de não ser compreendido.

7
A Lírica Moderna
  • Crise do conceito de personalidade redução do
    ser humano a um número.
  • A lírica moderna é a poesia da dissonância a
    poesia do homem fragmentado e em crise num mundo
    igualmente fragmentado e em crise.

8
A Lírica Moderna
  • Não há mais lugar para a unidade e a totalidade.
  • A totalidade é sempre falsa porque está
    estilhaçada e seu estilhaçamento produz uma cisão
    no sujeito que se divide entre o sujeito lírico
    (o poeta) e o sujeito empírico (o homem).

9
A fragmentação em Pessoa
  • A fragmentação em Fernando Pessoa envolve um ato
    de fingimento que se completa na utilização de
    várias linguagens, reveladoras do sujeito como um
    ser múltiplo.
  • Parece que Pessoa levou ao extremo a
    fragmentação, chegando mesmo à despersonalização.

10
A fragmentação em Pessoa
  • Criou não um, mas vários sujeitos líricos.
    Entende-se esses sujeitos líricos como personas,
    como máscaras, como criações.

11
A heteronímia de Pessoa
12
A heteronímia de Pessoa
  • Quando o autor faz uso de heterônimos, não se
    esconde sob um nome falso. Ocorre bem o
    contrário, ele se coloca em posição de diálogo
    com o sujeito lírico que ele mesmo criou, além de
    assinar a sua própria obra.

13
A heteronímia de Pessoa
  • O heterônimo é um personagem criado pelo poeta,
    que escreve a sua própria obra. Tem nome, obra,
    biografia e, sobretudo, um estilo próprios. O
    autor, o criador do heterônimo, passa a ser
    chamado de ortônimo e a sua criação passa a ser
    chamada de heterônimo, não havendo
    possibilidade de existência de um sem o outro.
    Fernando Pessoa foi quem criou essa designação e
    é o único caso de heteronímia na literatura
    universal.

14
Álvaro de Campos o heterônimo da lírica moderna
  • Álvaro de Campos é o mais fecundo e versátil
    heterônimo de Fernando Pessoa, e também o mais
    nervoso e emotivo, por vezes até histérico. Com
    algumas composições iniciais, que devem algo ao
    Decadentismo ("Opiário"), Álvaro de Campos é,
    sobretudo, o futurista da exaltação da energia
    até ao paroxismo (ao auge), da velocidade e da
    força da civilização mecânica do futuro, patentes
    na "Ode Triunfal".

15
Álvaro de Campos o heterônimo da lírica moderna
  • É o único heterônimo que conhece uma evolução
    ("Fui em tempos poeta decadente hoje creio que
    estou decadente, e já não o sou"). Passa por três
    fases a decadentista, a futurista e
    sensacionista e, por fim, a intimista-melancólica.

16
As fases da poesia de Campos
17
1ª - A fase decadentista
  • Traduz-se por sentimentos de tédio, enfado,
    náusea, cansaço, abatimento e necessidade de
    novas sensações.
  • Falta de sentido para a vida e necessidade de
    fuga à monotonia.

18
1ª - A fase decadentista
  • Esta fuga era feita habitualmente à base de
    entorpecentes, como era o caso do ópio.
  • Um dos poemas mais exemplificativos desta fase é
    o Opiário (1915).

19
2ª - A fase futurista e sensacionista
  • Após a descoberta do Futurismo (de Marinetti), da
    criação do Sensacionismo, e da influência que
    recebe do escritor norte-americano Walt Whitman,
    Campos adotou, para além do verso livre, um
    estilo esfuziante, torrencial, espraiado em
    longos versos de duas ou três linhas, anafórico
    (repetitivo), exclamativo, interjetivo, monótono
    pela simplicidade dos processos, pela reiteração
    de apóstrofes (interrupções) e enumerações, mas
    vivificado pela fantasia verbal duradoura e
    inesgotável, desprezando a rima e a métrica
    regular. Assim, ele busca a liberdade, a
    irreverência e a prosificação da poesia.

20
2ª - A fase futurista e sensacionista
  • Álvaro de Campos, além de celebrar o triunfo da
    máquina, da energia mecânica e da civilização
    moderna, canta também os escândalos e corrupções
    da contemporaneidade, em sintonia com o futurismo.

21
2ª - A fase futurista e sensacionista
  • Esta fase também é marcada pela intelectualização
    das sensações ou pela sua desordem. Como
    verdadeiro sensacionista, procura o excesso
    violento de sensações à maneira de Walt Whitman.
    O seu sensacionismo, contudo, distingue-se do seu
    mestre Alberto Caeiro, na medida em que este
    considera a sensação captada pelos sentidos como
    a única realidade, mas rejeita o pensamento.

22
2ª - A fase futurista e sensacionista
  • O mestre, com a sua simplicidade e serenidade,
    via tudo nítido e recusava o pensamento para
    fundamentar a sua felicidade, por estar de acordo
    com a Natureza já Campos, sentindo a
    complexidade e a dinâmica da vida moderna,
    procura sentir a violência e a força de todas as
    sensações ("sentir tudo de todas as maneiras").

23
3ª - A fase intimista-melancólica
  • Esta fase caracteriza-se por uma incapacidade de
    realização, trazendo de volta o abatimento. O
    poeta vive rodeado pelo sono e pelo cansaço,
    revelando desilusão, revolta, inadaptação, devido
    à incapacidade das realizações.

24
3ª - A fase intimista-melancólica
  • Após um período áureo de exaltação heróica da
    máquina, Álvaro de Campos é possuído pelo
    desânimo e pela frustração melancólica. Parece
    apresentar pontos comuns com a 1ª fase a
    decadentista - , contudo há que sublinhar que a
    intimista traduz a reflexão interior e angustiada
    de quem apenas sente o vazio depois da caminhada
    heróica.

25
3ª - A fase intimista-melancólica
  • Este Campos decaído, cosmopolita, melancólico,
    devaneador, irmão do Pessoa ortônimo, no
    ceticismo, na dor de pensar e nas saudades da
    infância, ou de qualquer coisa irreal, é o único
    heterônimo que compartilha da vida extraliterária
    de Fernando Pessoa.

26
Análise dos poemas
27
1 - Ode triunfal
  • A Ode Triunfal (fase futurista-sensacionista)
    está escrita em verso livre e amplo (num total de
    240 versos) e num estilo profundamente inovador
    marcado pela grandiloquência (visível,
    nomeadamente, nas exclamações e interjeições),
    exaltação épica ( Eia! Há-lá! ), ritmo
    esfuziante, torrencial anáforas, apóstrofes
    repetidas, enumerações, exclamações,
    interjeições, onomatopeias, neologismos
    (ferreando), fonemas substantivados,
    estrangeirismos, grafismos inovadores, frases
    nominais e infinitivas, oximoros misturas
    semânticas ousadas máquinas/ filósofos/ termos
    técnicos/ referências míticas expressões
    populares/ expressões eruditas.

28
1 - Ode triunfal
  • Podemos considerar nesta ode três momentos
  • A. Introdução (vv. 1 4)
  • Marcada pela vontade de cantar, mas
    confessadamente em situação de não canto
    tenho febre e escrevo.

29
1 - Ode triunfal
  • B. Desenvolvimento (vv. 5 238)
  • Marcado pela busca de identificação com tudo
    máquinas, pessoas, tempos abertura para o
    exterior e anulação do Eu pelo excesso das
    sensações cosmopolitismo cidade, luzes,
    modernidade, Europa canto de todas as atividades
    contemporâneas comércio, indústria,
    agricultura, política, imprensa, bordéis, gente
    reles à mistura com uma vontade de identificação
    com o moderno que vai até à perversão sexual (vv.
    72, 86-108 e 116-117).

30
1 - Ode triunfal
  • Este canto de triunfo vai em crescendo até o
    final, mas com quebras referência a escândalos
    e à corrupção (coexistentes com a modernidade
    exaltada) e, sobretudo, o discurso parentético
    (dos versos 182 a 190), com a evocação nostálgica
    da infância e do mundo rural em desapropriação.
    Estas quebras, à mistura com a referência à
    febre, do primeiro verso, ao canto também do
    passado (vv. 17-22) e à impotência manifestada na
    conclusão, afastam, por outro viés, o poema dos
    preceitos estritos do Futurismo a Marinetti.

31
1 - Ode triunfal
  • C. Conclusão (o último verso)
  • Um verso de conclusão, espécie de finda Ah
    não ser eu toda a gente e toda a parte! que
    representa uma confissão de fracasso e um retorno
    ao ponto inicial, à febre.

32
2 - Lisbom Revisited (1923)
  • Poema da terceira fase intimismo e melancolia.
  • Aspectos Temáticos Fundamentais a
    inexorabilidade (inevitabilidade) da morte a
    recusa de moral metafísica rejeição das
    verdades que a sociedade tem ciências
    civilização moderna o direito à solidão, ao
    silêncio, à diferença a infância como símbolo da
    felicidade perdida, presente no céu azul, no
    Tejo e na Lisboa de outrora.

33
2 - Lisbom Revisited (1923)
  • Aspectos linguísticos e estilísticos mais
    relevantes acumulação de construções negativas,
    como manifestação da recusa que o sujeito poético
    faz das principais manifestações da vida moderna
    de Lisboa Obs. Da exaltação e da euforia febril
    de Ode Triunfal passa-se ao tédio, ao desejo de
    solidão, à náusea e à angústia.

34
2 - Lisbom Revisited (1923)
  • É precisamente esta última fase de Campos, e o
    ceticismo que o percorre, que o aproximam de
    Pessoa ortônimo. Esta temática da infância
    aparece, no poema, depois da enumeração de uma
    série de sensações violentas e negativas. O
    sujeito poético vê o céu, o Tejo e Lisboa com o
    olhar da sua infância e ao mesmo tempo com o
    olhar do agora, do momento presente (Ó céu azul
    o mesmo da minha infância Tejo ancestral e
    mudo Lisboa de outrora e de hoje).

35
3 Ao volante do Chevrolet pela estrada de
Sintra
  • A sociedade de produção sem as máquinas da
    revolução industrial, ou sem os carros, seria um
    progresso apeado, ou seja, um progredir de coisa
    nenhuma, para outra igual a si.

36
3 Ao volante do Chevrolet pela estrada de
Sintra
  • O automóvel, porém, encerra dentro dele outra
    particularidade para ser guiado necessita de um
    volante, um comando de seguir viagem, cujo
    maquinismo, instrumento, o volante, é o símbolo
    sensacionista por excelência. Sem ele a sensação
    seria estéril, fixa, intoxicante, inconsequente,
    descontrolada, desequilibrada e descabida.

37
3 Ao volante do Chevrolet pela estrada de
Sintra
  • A estrada de Sintra é apenas um caminho, pelo
    qual, com o auxílio do volante (o sensacionismo,
    a corrente), cada um pode conduzir o progresso
    social e industrial, mecânico e econômico, a seu
    bel prazer, em direção à descoberta de si
    próprio, enquanto homem cosmopolita na sua fuga
    para a vida, para a frente, com a pobreza à
    esquerda e o latifúndio à direita, mas iludido e
    material, como o é, indubitavelmente, o homem
    típico da sociedade de produção.

38
3 Ao volante do Chevrolet pela estrada de
Sintra
  • No epílogo "final", há a sugestão de que as
    coisas do progresso, só serão válidas e úteis
    desde que forneçam um veículo e caminho que
    facilitem ao homem do seu tempo a tarefa
    essencial de se buscar, para a descoberta de si
    mesmo, enfim, um quadro de fundo e leitmotiv que
    assiste a todo e qualquer sensacionismo, ou até a
    todo e qualquer "ismo".

39
3 Ao volante do Chevrolet pela estrada de
Sintra
  • Outro pormenor a realçar, enquanto crítica do
    social, é que, ironicamente, o Chevrolet
    conduzido é emprestado, pois o modelo de
    sociedade descrito e subscrito por Campos também
    foi emprestado, não é português, é
    anglo-americano, visto que em Portugal a
    revolução industrial nunca chegou a acontecer, em
    termos determinativos e concludentes.

40
3 Ao volante do Chevrolet pela estrada de
Sintra
  • A oposição entre as duas cidades denuncia a
    medida da inquietação do sujeito que põe entre
    ambas. Quando está em uma, quer estar em outra e
    vice-versa. Essa oposição é elevada à condição
    simbólica de expressão de si (vida ou sonho).

41
3 Ao volante do Chevrolet pela estrada de
Sintra
  • A inquietude traz a instabilidade que leva o eu
    poético a admirar aqueles que estão parados. No
    final, ao aproximar-se de Sintra, transparece o
    cansaço da imaginação e, em sua reflexão,
    parece distanciar-se da compreensão de si mesmo
    cada vez menos perto de mim...

42
4 Mestre, meu mestre querido!
  • Neste poema, Campos faz uma homenagem ao seu
    mestre Alberto Caeiro. Reverencia o Mestre, mas
    numa evocação dramática de discípulo que,
    confessadamente, não logrou professar o credo da
    "apendizagem de desaprender" , e para quem o
    "pasmo essencial / Que tem toda criança se, ao
    nascer, / Reparasse que nascera deveras" se
    transforma na "pavorosa ciência de ver".

43
4 Mestre, meu mestre querido!
  • Álvaro de Campos, o poeta que nas grandes odes
    sensacionistas tenta a captação panfágica da
    realidade plural, ávido de um "mundo exterior
    sempre múltiplo", abre o seu poema com a clara
    manifestação de seu sentimento de perda em
    relação a Caeiro ("Mestre, que é feito de ti
    nesta forma de vida?"), o que se consuma nos
    versos finais da terceira estrofe
  • Eu, escravo de tudo como um pó de todos os
    ventos,
  • Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe
    de mim.

44
4 Mestre, meu mestre querido!
  • Campos se declara caído na desgraça de ser
    próprio, sendo ninguém, sendo nada. A "clareza da
    vista", objetivadora, ensinada naquela iniciação
    epistêmica, não encontra no discípulo malogrado
    "a alma com que a ver clara", e "o alto dos
    montes", para que fora chamada, não foi alçado
    pela "criança das cidades do vale" porque ela
    "não sabia respirar".

45
4 Mestre, meu mestre querido!
  • Daí decorre o sentimento de vazio existencial
    presente na obra de Álvaro de Campos, seja
    constatado, euforicamente, nas grandes odes
    sensacionistas, seja manifesto, dramaticamente,
    na fase depressiva de seus últimos poemas.

46
5 Poema em linha reta
  • O sujeito lírico é crítico em relação a si
    próprio e interroga o leitor pedindo-lhe
    respostas. Dessa forma, se apresenta por meio de
    adjetivos pejorativos reles, porco, vil,
    pessimista, sujo, ridículo, absurdo, grotesco,
    mesquinho, submisso, arrogante, cômico, errôneo.
    Expõe-se, portanto, ao ridículo quando revela
    suas transgressões sociais, através de uma
    perspectiva absurda e sarcástica.

47
5 Poema em linha reta
  • Quando declara que tenho enrolado os pés
    publicamente nos tapetes das etiquetas, o eu
    poético sugere uma fuga das etiquetas que a
    sociedade impõe, sem dar importância às
    convenções sociais, que exigem regras das
    pessoas civilizadas.

48
5 Poema em linha reta
  • O poeta, ironicamente, lamenta que os outros, os
    príncipes, os superiores, ou seja, nenhuma
    voz humana possa confessar-lhe algum pecado ou
    alguma atitude vil. Trata-se, naturalmente, de
    uma corrosiva ironia à hipocrisia social que
    ostenta de falsas aparências.

49
6 Todas as cartas de amor são
  • Todas as cartas de amor são e Poema em linha
    reta possuem um ponto em comum ao abordarem,
    ambos, a questão da transgressão da ordem social
    pelo ridículo, pelo absurdo.

50
6 Todas as cartas de amor são
  • Trata-se de um sujeito lírico que não assume a
    dimensão heróica de luta contra a sociedade,
    lutando por algum ideal revolucionário. Numa
    perspectiva niilista, o sujeito assume a
    possibilidade de ser ridículo como traço
    marcante da condição humana.

51
6 Todas as cartas de amor são
  • Na introdução do poema, está posta a ideia de
    que, em sua totalidade, as cartas de amor são
    ridículas, e que não poderiam ser cartas de
    amor se não fossem ridículas, pois parece que
    todo o sentimentalismo é piegas.

52
6 Todas as cartas de amor são
  • Então o sujeito lírico demonstra uma virada de
    perspectiva nos versos Mas, afinal,/Só as
    criaturas que nunca escreveram/Cartas de amor/É
    que são/Ridículas. Atribuindo um caráter
    negativo ao termo ridículas, subverte a noção e
    sugere que ridículas são, justamente, as
    pessoas que não escreveram cartas de amor.

53
6 Todas as cartas de amor são
  • Satiriza e rebaixa, assim, as criaturas que
    nunca conseguiram expressar o sentimento amoroso
    por cartas, que não se permitiram o ridículo de
    se entregar ao amor. Portanto não se expor à
    verdade, mesmo que inventada não se entregar às
    intempestivas razões do coração (misterioso), é
    renegar a liberdade e a maior de todas as
    possibilidades permitidas para ser,
    adoravelmente, ridículo.

54
6 Todas as cartas de amor são
  • Com os versos Quem me dera no tempo em que
    escrevia/Sem dar por isso/Cartas de
    amor/Ridículas., a fala do sujeito lírico ganha
    uma dimensão melancólica, na medida em que essa
    escrita passa a ser objeto de desejo do eu
    poético, inalcançável no presente.

55
6 Todas as cartas de amor são
  • Tal amargura parece configurar-se nos seguintes
    versos A verdade é que hoje/As minhas
    memórias/Dessas cartas de amor/É que
    são/Ridículas. Ao pensar no passado, parece
    refutar a idéia de nostalgia, pois recordar sobre
    as cartas de amor que, supostamente, escrever é
    que deveras inútil nesse momento.

56
6 Todas as cartas de amor são
  • Na estrofe final, posta entre parênteses, faz uma
    espécie de comentário interno sobre o próprio
    poema (Todas as palavras esdrúxulas/Como os
    sentimentos esdrúxulos,/São naturalmente/Ridículas
    .) Sugere, enfim, que o amor, como sentimento
    que arde, que é extravagante, que provoca
    devaneios e desesperos, tem a particularidade de
    poder ser conclamado e de nos permitir ser
    exagerado e ridículo. Então, esquisito ou
    risível, o discurso poético e a expressão amorosa
    são objetos dignos de riso, na autoconsciência
    corrosiva de Campos.

57
7 - Tabacaria
  • O poema enquadra-se na terceira fase poética de
    Álvaro de Campos, denominada intimista-melancólica
    . Desiludido dos esforços das fases anteriores,
    "Sensacionista" e "Futurista", Campos deixa-se
    cair num pessimismo intenso, marcado por um forte
    regresso das memórias da sua infância e a
    consciência de que ficou (e está) sozinho no
    mundo.

58
7 - Tabacaria
  • O tema do poema é a dimensão da solidão interior
    face à vastidão do Universo exterior. A Tabacaria
    acaba por ser um símbolo que não tem valor
    próprio - verdadeiramente importante é que esse
    símbolo faz nascer em Campos a necessidade de
    analisar a sua própria existência face à
    existência da Tabacaria enquanto coisa fixa e
    real.

59
7 - Tabacaria
  • A simbologia do quarto e da janela versus a rua e
    a Tabacaria pode representar a oposição entre o
    "dentro" e o "fora", uma oposição dialética que
    parte em busca de uma síntese, de uma
    compreensão.

60
7 - Tabacaria
  • Ao longo de todo o texto, há uma noção clara de
    diálogo, mesmo sem personagens. Trata-se de um
    monólogo, onde Campos fala para si mesmo e, em
    evidentes momentos de quebra (passagens entre
    parênteses), para a fim de pensar, intercalando
    ao discurso racional momentos de delírio
    momentâneo, irracionais, emocionais, mas
    complementares.

61
7 - Tabacaria
  • A primeira parte do poema correspondente à
    primeira estrofe, o sujeito lírico assume uma
    espécie de vazio ontológico - "não sou nada", e a
    contraposição entre o nada exterior e o tudo
    interior ("tenho em mim..."). Na realidade o
    vazio ontológico é ilusório e aquele "nada" é
    apenas o assumir de não ser nada exteriormente -
    a nulidade não é verdadeiramente ontológica
    (teoria do ser enquanto ser em si mesmo), mas
    fenomenológica (fenômenos interiores).

62
7 - Tabacaria
  • Na parte seguinte, o sujeito lírico estabelece a
    sua condição atual, ao mesmo tempo em que
    localiza o espaço - sabemos que está no seu
    quarto e a metáfora do quarto é a metáfora da sua
    condição humana. Ele é uma mente presa num quarto
    que olha a realidade do dia a dia por uma janela.

63
7 - Tabacaria
  • O que fica é, sobretudo, um sentido de oposição
    entre realidade (a rua, a Tabacaria) e
    irrealidade (a vida dele, o quarto). A ligação
    entre ambas é apenas uma janela, ou seja, permite
    uma interação limitada, mas nunca uma passagem
    concreta de uma para a outra. O eu poético é um
    "falhado", mesmo que se saiba um gênio - é afinal
    Pessoa que fala pela voz da Campos. Está vencido
    e sabe que nunca conseguirá ser feliz.

64
7 - Tabacaria
  • Na entrada do homem na Tabacaria, o sujeito
    lírico justifica para si mesmo o rumo que teve na
    vida e, deixando ainda estar-se desesperado, olha
    as alternativas que lhe restavam para ser feliz.
    Aqui a contraposição já não é entre o real e o
    ideal, entre o fora e o dentro, mas entre ele e
    os outros, entre a sua condição e a condição dos
    outros.

65
7 - Tabacaria
  • Choca-lhe, sobretudo, aqueles que vivem a sua
    vida numa inconsciência plena - essa é afinal, em
    muitas das passagens de Pessoa, o ideal
    inatingível de felicidade.

66
7 - Tabacaria
  • Começa com a rapariga que come chocolates, suja,
    perdida na sua gula. Essa passagem é marcante e
    simples de analisar "Pudesse eu comer chocolates
    com a mesma verdade com que comes! / Mas eu
    penso". Sabe, porém, que isso está fora do seu
    alcance - ele não vai deixar de pensar. Resta-lhe
    uma atitude nobre e vaga os poemas. Uma atitude
    nobre que ele espera que o salve, não sabe bem
    como, de uma mediocridade intensa que lhe vem de
    nada fazer sentido em sua vida.

67
7 - Tabacaria
  • Surge o regresso da realidade. O sujeito lírico
    deixa de "filosofar" quando um elemento real se
    intromete entre ele e a Tabacaria. Tudo se
    desmorona, porque tudo estava apenas no
    pensamento dele e nunca poderia ser real da mesma
    maneira que o Esteves é real.

68
7 - Tabacaria
  • Passando, subitamente, a interveniente na
    realidade que analisava, vê um conhecido que
    depois lhe acena, e deixa de poder estar fora da
    realidade para ser puxado violentamente para o
    meio dela. É assim que o Universo se reconstrói
    subitamente, sem metafísica, ou seja, sem dar
    mais azo ao pensamento e à análise - é só a
    verdade dos sentidos e não a idealização do
    pensamento.

69
8 Aniversário
  • Escrito em 13 de junho de 1930, data do
    aniversário do próprio Fernando Pessoa, o ponto
    de partida do poema é a comemoração do
    aniversário. Ao final, entretanto, aparece a data
    de 15 de outubro de 1929, aniversário atribuído a
    Álvaro de Campos. Trata-se de um dos poemas mais
    tristes e simultaneamente pungentes de toda a
    obra do poeta.

70
8 Aniversário
  • O poema "Aniversário" enquadra-se precisamente na
    última fase do poeta, a fase dita
    intimista-melancólica, em que os temas
    abordados por Campos apontam para a sua desilusão
    com a vida, sugerindo a amargura e a lembrança de
    um passado para onde nunca mais poderá regressar.

71
8 Aniversário
  • "Aniversário" é mesmo marcado por essa recordação
    da infância " No tempo em que festejavam o dia
    dos meus anos, / Eu era feliz e ninguém estava
    morto". Campos parece referir-se aos anos de
    infância de Pessoa, em que nenhum dos seus irmãos
    tinha ainda morrido, e o seu próprio pai ainda o
    acompanhava. Nesse "tempo", festejar os anos era
    ainda uma festa inocente e feliz.

72
8 Aniversário
  • O tempo passado é um tempo feliz, mas,
    simultaneamente, um tempo perdido, porque as
    crianças não sabem que são felizes, só mais tarde
    quando recordam. As crianças têm "a grande saúde
    de não perceber coisa nenhuma".

73
8 Aniversário
  • A seguinte passagem "O que eu sou hoje (e a casa
    dos que me amaram treme através das minhas
    lágrimas), / O que eu sou hoje é terem vendido a
    casa, / É terem morrido todos, / É estar eu
    sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio..."
    sugere uma grande desilusão. A infância
    perdeu-se para nunca mais regressar igual. No
    momento presente o poeta sente essa perda como a
    perda da sua identidade feliz.

74
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • Na poesia de Campos, a melancolia é efeito de uma
    perda que ocorre no próprio eu. Portanto para
    este eu do agora, do momento presente, sobrou o
    vazio inquieto, restaram os sentimentos de
    melancolia, tédio, angústia e náusea diante de
    tudo.

75
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • O movimento de arrumar a mala é alternado com o
    do adiamento de todas as viagens. Partindo de uma
    profunda reflexão, acerca da aridez interior e do
    descontentamento de si, chega-se à conclusão de
    que se tem por força que arrumar a mala.

76
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • O gesto cotidiano de acender o cigarro é mais do
    que um simples gesto, representa o desejo de
    adiamento, seja da vida, seja do universo
    inteiro. O presente absoluto que assola a vida
    também deve ser adiado.

77
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • O julgamento do adulto, de agora, é implacável
    consigo mesmo o sentir-se derrotado pela vida o
    comprometeu de modo irremediável, deixando muito
    distante o menino de outrora, que ainda podia
    sonhar.

78
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • Mesmo com a constatação de que arruma melhor a
    mala apenas no pensamento, sabe que não é apenas
    no pensamento que a sua vida deverá ser arrumada,
    mas também na ação. A repetição da expressão ter
    que arrumar torna obrigatória a tentativa de
    realizar a ação.

79
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • Por que arrumar a mala de ser se tudo é
    deserto? Por toda a vida teve e tem de arrumar a
    mala, mas o que tem feito é ficar sentado. Num
    dado momento, contudo, o impulso para arrumar a
    mala parece vencer a atitude estática e
    ruminante.

80
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • Só que, quando se levanta em definitivo, com
    força e coragem para arrumar a mala, mais uma vez
    volta à questão da felicidade que mora sempre na
    casa dos outros ou em qualquer lugar em que não
    se esteja.

81
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • Ele tem pena de si mesmo, porque sabe que o
    deserto que se formou, sem possibilidade de
    disfarçar o solo com pedras e tijolos, está no
    seu interior, pois pode até ser que nem tudo seja
    deserto, pode haver oásis, mas não para ele.

82
9 - Grandes são os desertos, e tudo é deserto
  • No final, como última tentativa desesperada de
    ancorar nessa necessidade, decide que mais vale
    arrumar a mala, porque senão o pensamento lhe
    revelará o vazio, o do deserto de ser. Talvez, no
    entanto, já seja tarde demais, porque no último
    verso, lemos a palavra Fim.

83
10 - Lisboa com suas casas
  • Poema de estrutura simples, formado por cinco
    estrofes, de tamanhos diferentes, escrito em
    versos livres, tendo como núcleo de sua
    construção a repetição Lisboa com suas casas/De
    várias cores. Tal repetição sugere uma
    caracterização trivial e abstrata, revelando a
    monotonia objetiva da cidade.

84
10 - Lisboa com suas casas
  • Na longa segunda estrofe do poema, acontece um
    deslocamento para um outro tempo e para outro
    espaço. O sujeito lírico surge em meio a noite,
    com os olhos fechados e sofrendo de insônia. Em
    seguida, como numa projeção, não vê mais Lisboa
    com as suas casas de várias cores no lado interno
    das pálpebras.

85
10 - Lisboa com suas casas
  • Ocorre, assim, uma de perspectiva e a monotonia
    dessa imagem provoca o sorriso satisfeito de
    quem dorme e esquece que existe. Trata-se de uma
    imagem interiorizada, entre a vigília e o sono,
    que constrói um lugar aconchegante, que leva ao
    sono e ao descanso.

86
10 - Lisboa com suas casas
  • Na passagem da vigília ao sono, no tédio de
    estar acordado ao descanso de esquecer que
    existe, é que a cidade interessa como projeção
    subjetiva da interioridade do sujeito.

87
Última frase, escrita em inglês, do poetaI
know not what tomorrow will bring(Eu não sei o
que o amanhã trará)
Write a Comment
User Comments (0)
About PowerShow.com